02º Domingo do Tempo Comum – Ano C [atualizado]

ANO C
2.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 2.º Domingo do Tempo Comum

A Palavra de Deus que a liturgia nos propõe neste segundo domingo comum utiliza a metáfora do “casamento” para descrever a relação de amor e de comunhão entre Deus e o seu Povo. Inclui um veemente convite a entrarmos nessa história de amor que Deus se dispõe a construir connosco.

Na primeira leitura um profeta anónimo fala a Jerusalém – a cidade triste e em ruínas que as tropas babilónicas destruíram e queimaram – e garante-lhe que Deus a ama com um amor sem fim. O amor de Deus irá regenerar Jerusalém, recriando-a e transformando-a numa “noiva” encantadora e resplandecente. Iluminada pelo amor, a cidade-esposa de Deus encherá de orgulho e de alegria o coração do seu marido.

No Evangelho Jesus, no cenário da festa de casamento de um jovem casal de Caná da Galileia, apresenta o programa que se propõe concretizar: trazer o “vinho bom”, o “vinho” da alegria e do amor, à relação entre Deus e os homens. Da ação de Jesus – das suas palavras, dos seus gestos, do seu amor até ao extremo – nascerá a comunidade da nova “aliança”, a comunidade que vive no amor a Deus e que se dispõe a dar testemunho desse amor no mundo.

Na segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos de Corinto que os “carismas”, enquanto sinais do amor de Deus, se destinam ao bem de todos. Não podem servir para uso exclusivo de alguns, nem podem ser fator de divisão e de tensão comunitária. Na partilha comunitária dos dons de Deus manifesta-se o amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

 

LEITURA I – Isaías 62,1-5

Por amor de Sião não me calarei,
por amor de Jerusalém não terei repouso,
enquanto a sua justiça não despontar como a aurora
e a sua salvação não resplandecer como facho ardente.
Os povos hão de ver a tua justiça
e todos os reis a tua glória.
Receberás um nome novo,
que a boca do Senhor designará.
Serás coroa esplendorosa nas mãos do Senhor,
diadema real nas mãos do teu Deus.
Não mais te chamarão «Abandonada»,
nem à tua terra «Deserta»,
mas hão de chamar-te «Predileta»
e à tua terra «Desposada»,
porque serás a predileta do Senhor
e a tua terra terá um esposo.
Tal como o jovem desposa uma virgem,
o teu Construtor te desposará;
e como a esposa é a alegria do marido,
tu serás a alegria do teu Deus.

 

CONTEXTO

Nos capítulos 56 a 66 do livro de Isaías (o “Trito-Isaías”) temos uma coleção de textos, provavelmente de autores diversos, redigidos em Jerusalém na época pós-exílica. O poema que a liturgia deste segundo domingo comum nos apresenta como primeira leitura pertence a essa coleção.

Para aqueles que retornaram do Exílio na Babilónia, são tempos difíceis e incertos. A população da cidade é pouco numerosa e pobre; a reconstrução é lenta, modesta e exige um grande esforço; os inimigos estão à espreita e fazem continuamente sentir a sua hostilidade; há tensões no ar entre os que regressaram da Babilónia e aqueles que ficaram na cidade. Aos poucos, com a reorganização da estrutura social, voltam as injustiças dos poderosos sobre os fracos e os pobres, bem como a corrupção, a venalidade e a prepotência dos chefes. O clima é de frustração e de desânimo. As promessas de Deus, escutadas na fase final do Exílio, parecem bem distantes.

Os profetas que desenvolvem a sua missão nesta fase procuram renovar a esperança do Povo de Judá num futuro de vida plena e de salvação definitiva. Nesse sentido, vão falar de uma época em que Deus vai voltar a residir em Jerusalém, oferecendo em cada dia ao seu Povo a vida e a salvação. Essa “salvação” implicará, não só a reconstrução de Jerusalém e a restauração das glórias passadas, mas também a libertação dos pobres, dos oprimidos, dos fracos, dos marginalizados.

O texto que hoje nos é proposto é parte de um poema (Is 62,1-9) que canta Jerusalém como a “esposa de Javé”, a cidade que Deus continua a amar, apesar das suas infidelidades.

 

MENSAGEM

O profeta sente dentro de si uma força que o impele a cantar a glória futura de Jerusalém, a proclamar o amor nunca desmentido de Deus pela sua cidade e pelo seu Povo (vers. 1). Vai fazê-lo recorrendo a uma imagem que a reflexão profética, desde Oseias (cf. Os 2,4-25), consagrou: a imagem do casamento entre um homem e uma mulher.

É verdade que Jerusalém, a esposa de Javé, abandonou o seu marido e correu atrás de outros deuses. As suas decisões erradas resultaram na invasão por tropas estrangeiras, na derrota e numa devastação que lhe tirou toda a beleza. O Templo, o lugar onde Javé residia, foi destruído e Deus afastou-se da sua cidade; por outro lado, os habitantes de Jerusalém foram levados para longe, para o cativeiro na Babilónia. Jerusalém ficou abandonada, deserta e desolada. A história de amor entre Deus e Jerusalém estará terminada?

Não. O profeta anuncia que Deus vai desposar a sua amada Jerusalém. Não se trata aqui de uma reconciliação entre o marido e a esposa desavindos (como acontece noutros textos proféticos), mas de novas núpcias, do começo de algo novo. O amor sempre fiel de Deus não só se mantém, mas vai regenerar e rejuvenescer a sua amada Jerusalém; transformada e recriada por esse amor, ela será totalmente outra, uma “mulher” nova que terá um nome novo, dado pelo seu amado. Jerusalém, a noiva de Deus, bela e intensamente amada por Deus, será uma “coroa esplendorosa”, um “diadema real” que brilha nas mãos do rei/Deus (vers. 3). Deixará de ser vista como uma mulher “abandonada”, triste e desolada para se apresentar aos olhos de todos como uma jovem noiva, cheia de frescura e encanto, a quem chamarão “predileta” de Deus, “desposada” com Deus (vers. 4). É esse o grande milagre do amor de Deus: renova, transforma, oferece um novo começo, possibilita uma nova vida.

As faltas passadas de Jerusalém não mais se repetirão; Jerusalém, a jovem esposa cheia de encanto que Deus ama com um amor incondicional, será a alegria do seu marido (vers. 5). É bela esta nota final sobre a alegria de Deus quando encontra, da nossa parte, o acolhimento do seu amor e da sua proposta de comunhão.

 

INTERPELAÇÕES

  • A história da relação entre Deus e o seu Povo revela, a cada passo, o “ser” de Deus. Deus é amor, um amor nunca desmentido, nunca posto em causa, nunca condicionado, nunca sujeito à precariedade que imprimimos às nossas relações. Mesmo quando nos fechamos no egoísmo e na autossuficiência, Deus continua a oferecer-nos o seu amor; mesmo quando nos recusamos a escutá-l’O e a acolher as suas propostas, Deus continua a cuidar de nós com amor de pai e de mãe; mesmo quando subvertemos o plano que Ele tem para nós e para o mundo, Deus continua a contar connosco e a convidar-nos para integrar a sua família… Deus não desiste de nós; para Deus, nunca seremos “um caso perdido”, porque o amor verdadeiro nunca dá por perdida a pessoa amada. Nós que, tantas vezes, nos sentimos pecadores, malditos, indignos, perdidos, amargurados pelo peso do nosso pecado e das nossas opções erradas, somos hoje convidados a contemplar o amor inquebrantável que Deus tem por nós e a viver iluminados por esse amor. Sabemos que caminhamos pela vida envolvidos pelo amor de Deus? A consciência do amor de Deus liberta-nos e enche o nosso coração de alegria e de esperança?
  • O Trito-Isaías afirma que o amor de Deus irá transformar a Jerusalém manchada e macilenta, destruída pelos inimigos, calcinada pelos incêndios que os exércitos babilónios atearam, abandonada pelos seus habitantes, numa “noiva” encantadora e resplandecente, capaz de encher de orgulho e de alegria o coração daquele que a ama. Se nós deixarmos, o amor de Deus é capaz de nos regenerar, de nos transformar, de nos abrir perspetivas novas, de nos convencer a levantar os olhos dos horizontes rasteiros em que a nossa existência decorre, para contemplarmos os horizontes vastos de uma vida livre, cheia de sentido e de realização. Conservamo-nos teimosamente fechados na nossa autossuficiência, ou estamos disponíveis para nos deixarmos transformar e recriar pelo amor de Deus?
  • Quando fazemos uma verdadeira experiência do amor de Deus, nada fica igual na nossa vida. Somos dominados por um profundo sentimento de gratidão e ficamos com vontade de testemunhar esse amor junto de todos aqueles que se cruzam connosco nos caminhos que todos os dias percorremos. Tornamo-nos arautos do amor de Deus e esse amor “aparece” nos nossos gestos, nas nossas atitudes, na nossa forma de tratar os outros homens e mulheres. Somos sinais vivos de Deus, com o amor que transparece nos nossos gestos? As nossas famílias são um reflexo do amor de Deus? As nossas comunidades cristãs anunciam ao mundo, de forma concreta, o amor que Deus tem por todos os seus filhos, particularmente pelos mais frágeis, pelos mais abandonados, por aqueles que ninguém quer e ninguém ama?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96)

Refrão: Anunciai em todos os povos as maravilhas do Senhor.

Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira,
cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.

Anunciai dia a dia a sua salvação,
publicai entre as nações a sua glória,
em todos os povos as suas maravilhas.

Dai, ó Senhor, ó família dos povos,
dai ao Senhor glória e poder,
dai ao Senhor a glória do seu nome.

Adorai o senhor com ornamentos sagrados,
trema diante d’Ele a terra inteira;
dizei entre as nações: «O Senhor é Rei»,
governa os povos com equidade.

 

LEITURA II – 1 Coríntios 12,4-11

Irmãos:
Há diversidade de dons espirituais,
mas o Espírito é o mesmo.
Há diversidade de ministérios,
mas o Senhor é o mesmo.
Há diversidade de operações,
mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.
Em cada um se manifestam os dons do Espírito
para o bem comum.
A um o Espírito dá a mensagem da sabedoria,
a outro a mensagem da ciência, segundo o mesmo Espírito.
É um só e o mesmo Espírito
que dá a um o dom da fé, a outro o poder de curar;
a um dá o poder de fazer milagres,
a outro o de falar em nome de Deus;
a um dá o
discernimento dos espíritos,
a outro o de falar diversas línguas,
a outro o dom de as interpretar.
Mas é um só e o mesmo Espírito que faz tudo isto,
distribuindo os dons a cada um conforme Lhe agrada.

 

CONTEXTO

O trabalho missionário de Paulo de Tarso, em meados do séc. I, levou o cristianismo ao encontro do mundo grego. Paulo, depois de um certo discernimento, tinha concluído que a proposta de Jesus era para todos os povos da terra e não exclusivamente para os judeus. No entanto, o contexto judaico – de onde o cristianismo era originário – e o contexto grego eram realidades culturais e religiosas bastante diferentes. Como é que a proposta cristã se aguentaria quando mergulhasse num mundo que funcionava com dinamismos que lhe eram estranhos? Iria a brilhante cultura grega absorver ou desvirtuar os valores cristãos? Como é que os cristãos de origem grega integrariam a sua fé na realidade cultural em que estavam inseridos? A comunidade cristã de Corinto sentiu toda esta problemática de forma especial. Na Primeira Carta aos Corintos, Paulo aborda diversas questões que lhe foram colocadas pelos cristãos de Corinto e onde, como “pano de fundo”, está a questão do encaixe dos valores cristãos nos valores da cultura grega.

Uma das questões onde esta problemática, de alguma forma, está presente é a questão dos “carismas”. A palavra “carisma” tem a sua origem no campo religioso cristão, especialmente na teologia paulina. Designa dons especiais do Espírito, concedidos a determinado indivíduo – independentemente do posto que ocupa na instituição eclesial – para o bem das pessoas, para as necessidades do mundo e, em particular, para a edificação da Igreja. Nas cartas de Paulo fala-se insistentemente em “carismas” que animavam a vida e o dinamismo das comunidades cristãs.

Alguns cristãos de Corinto, no entanto, influenciados por determinadas experiências religiosas que existiam na religião grega tradicional, entenderam os “carismas” de uma forma bem peculiar. Eles conheciam, por exemplo, os “oráculos”, através dos quais os deuses, servindo-se de intermediários humanos, transmitiam as suas indicações (santuário de Delfos, sacerdotisas de Dodona); conheciam também certos rituais em que os crentes, através do transe, de experiência orgiásticas, de excessos de vários tipos, se “fundiam” com o deus a quem prestavam culto (mistérios de Dionísio, culto de Cibele). Confundiram, portanto, os “carismas” cristãos com algumas dessas práticas pagãs; e, possivelmente, chegaram a fazer uso dos dons carismáticos em ambiente semelhante ao de certas cerimónias religiosas pagãs.

Mais ainda: considerando-se a si próprios “escolhidos de Deus”, alguns destes carismáticos reivindicavam um protagonismo que danificava a comunhão fraterna. Apresentando-se como “iluminados”, mensageiros incontestados das coisas divinas, assumiam atitudes de autoritarismo e de prepotência que não favoreciam a fraternidade; desprezavam os que não tinham sido dotados destes dons, considerando-os como “cristãos de segunda”, limitados a um lugar subalterno no contexto comunitário.

Tudo isto causou natural alarme na comunidade cristã de Corinto. Paulo, informado da situação, entendeu intervir para evitar abusos e mal-entendidos. Na Primeira Carta aos Coríntios, ele corrige, dá conselhos, mostra a incoerência destes comportamentos, incompatíveis com o Evangelho de Jesus. A sua intervenção neste campo aparece nos capítulos 12 a 14 da referida Carta. A nossa segunda leitura deste domingo insere-se neste contexto.

 

MENSAGEM

Paulo procura ajudar os coríntios a enquadrar os “carismas” de forma adequada, não apenas na dimensão da vida pessoal, mas também no contexto comunitário.

O apóstolo lembra aos cristãos de Corinto que, apesar da diversidade de dons espirituais, é o mesmo Espírito que atua em todos; apesar da diversidade de funções, é o mesmo Senhor Jesus que está presente em todos; apesar da diversidade de ações, é o mesmo Deus que age em todos. Todos os carismas, por diversos que sejam, unificam-se no mesmo Deus uno e trino (vers. 4-6). Os “carismas” não dividem nem podem ser usados para dividir a comunidade. Eles unem os membros da comunidade à volta do mesmo Deus, do mesmo Senhor Jesus, do mesmo Espírito, da mesma experiência de fé. Um “carisma” que não é fator de unidade é um “carisma” falso.

Paulo garante também que os dons que o Espírito concede “a cada um” são “para o bem comum”, para benefício de todos (vers. 7). Estes dons não podem, portanto, ser usados para benefício próprio, para a promoção de si próprio, para melhorar a própria posição ou o próprio “ego”; eles são para o bem de toda a comunidade e só fazem sentido enquanto são postos ao serviço da comunidade. Depois, Paulo apresenta uma lista de nove “carismas” (vers. 8-10): a sabedoria que ajuda a escolher Deus e a viver de acordo com as suas propostas; a ciência que permite compreender as verdades da fé; a fé que é capaz de servir de alicerce a uma existência segundo Deus; dom de curar e de levar vida nova a quem sofre; o dom de realizar gestos poderosos; o dom de falar em nome de Deus; o dom de discernir os diversos carismas; o dom de falar de forma que todos entendam; o dom de interpretar de forma apropriada aquilo que foi dito de forma pouco inteligível. Trata-se, provavelmente, dos “carismas” mais apreciados na comunidade cristã de Corinto.

Para concluir, Paulo reafirma que todos esses “carismas”, embora diferentes, brotam do mesmo Espírito; e é o Espírito que os distribui de forma apropriada, pois Ele sabe bem o que é que a comunidade precisa para a sua edificação (vers. 11).

 

INTERPELAÇÕES

  • Todos aqueles que integram a comunidade cristã são membros de um único “corpo”, o “corpo de Cristo”; todos aqueles que são membros do “corpo de Cristo” vivem e alimentam-se do mesmo Espírito; todos aqueles que se alimentam do mesmo Espírito formam uma família de irmãos e de irmãs, iguais em dignidade. Podem, naturalmente, desempenhar funções diversas, como acontece com os membros de um corpo; mas todos eles são igualmente importantes enquanto membros do “corpo de Cristo”. Tudo isto parece incontestável, à luz da doutrina de Paulo. No entanto encontramos, com alguma frequência, cristãos com uma consciência viva da sua superioridade e da sua situação “à parte” na comunidade (seja em razão da função que desempenham, seja em razão das suas “qualidades” humanas), que gostam de se fazer notar e de afirmar a sua autoridade ou o seu “estatuto”. Às vezes, veem-se atitudes de prepotência e de autoritarismo por parte daqueles que se consideram depositários de dons especiais; por vezes, ficamos com a sensação de que a estrutura eclesial funciona em modelo piramidal, com uma elite que preside e toma as decisões instalada no topo, e um “rebanho” silencioso que obedece instalado na base. Isto faz algum sentido, à luz da doutrina que Paulo expõe? Como entendemos o nosso lugar e o nosso papel na comunidade cristã?
  • Os dons que o Espírito concede, por mais pessoais que sejam, são para servir o bem comum e para reforçar a vivência comunitária. Quem os recebe deve pô-los ao serviço de todos, com humildade e simplicidade. Não faz sentido escondermos os “dons” que recebemos, guardando-os só para nós e deixando que eles fiquem estéreis; também não faz sentido usar os “dons” que recebemos de tal forma que eles se tornem fator de conflitos ou de divisões. Os “dons” que nos foram concedidos são postos ao serviço da comunidade? São fonte de encontro, de comunhão, de partilha, de Vida, para a comunidade de que fazemos parte?
  • O Espírito Santo é uma presença imprescindível no caminho que a Igreja vai percorrendo todos os dias: é Ele que alimenta, que anima, que fortalece, que dá Vida ao Povo de Deus peregrino; é Ele que distribui os dons conforme as necessidades e que, com esses dons, continuamente recria a Igreja; é Ele que conduz a marcha, que indica os caminhos a percorrer, que ajuda a tomar as decisões que se impõem para que a “barca de Pedro” chegue a bom porto. Temos consciência da presença do Espírito, procuramos ouvir a sua voz e perceber as suas indicações?
  • A comunidade cristã tem de ser o reflexo da comunidade trinitária, dessa comunidade de amor que une o Pai, o Filho e o Espírito. As nossas comunidades paroquiais, as nossas comunidades religiosas são espaços de comunhão e de fraternidade, onde o amor e a solidariedade dos diversos membros refletem o amor que une o Pai, o Filho e o Espírito?
  • Como consideramos “os outros” – aqueles que têm “dons” diferentes ou, até, aqueles que se apresentam de forma discreta, sem se imporem, sem “darem nas vistas”? Eles são vistos como membros legítimos do mesmo corpo que é a comunidade, ou como cristãos de segunda, massa amorfa a que não damos muita importância?

 

ALELUIA – cf. 2 Tes 2,14

Aleluia. Aleluia.

Deus chamou-nos, por meio do Evangelho,
a tomar parte na glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

EVANGELHO – João 2,1-11

Naquele tempo,
realizou-se um casamento em Caná da Galileia
e estava lá a Mãe de Jesus.
Jesus e os seus discípulos
foram também convidados para o casamento.
A certa altura faltou o vinho.
Então a Mãe de Jesus disse-Lhe:
«Não têm vinho».
Jesus respondeu-Lhe:
«Mulher, que temos nós com isso?
Ainda não chegou a minha hora».
Sua Mãe disse aos serventes:
«Fazei tudo o que Ele vos disser».
Havia ali seis talhas de pedra,
destinadas à purificação dos judeus,
levando cada uma de duas a três medidas.
Disse-lhes Jesus:
«Enchei essas talhas de água».
Eles encheram-nas até acima.
Depois disse-lhes:
«Tirai agora e levai ao chefe de mesa».
E eles levaram.
Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho,
– ele não sabia de onde viera,
pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam –
chamou o noivo e disse-lhe:
«Toda a gente serve primeiro o vinho bom
e, depois de os convidados terem bebido bem,
serve o inferior.
Mas tu guardaste o vinho bom até agora».
Foi assim que, em Caná da Galileia,
Jesus deu início aos seus milagres.
Manifestou a sua glória
e os discípulos acreditaram n’Ele.

 

CONTEXTO

Depois de nos apresentar Jesus (cf. Jo 1,1-51), João convida-nos a testemunhar o início da sua missão no meio dos homens. Leva-nos até Caná da Galileia, uma pequena aldeia agrícola identificada com a atual Kefar Kanna, situada a alguns quilómetros a nordeste de Nazaré. Era a terra natal do apóstolo Natanael (cf. Jo 21,2). João diz-nos que foi em Caná, no decurso de uma festa de casamento, que Jesus “deu início aos seus sinais” (“semeiôn” – Jo 2,11). A palavra utilizada designa, no Evangelho de João, certas ações realizadas por Jesus que, sendo visíveis para aqueles que as contemplam, apontam para outras realidades, para verdades que ultrapassam o simples gesto realizado. O “sinal” convida aqueles que o testemunham a deduzir algo sobre Jesus e sobre a missão que Ele, por mandato do Pai, veio concretizar no meio dos homens.

O “sinal” que somos convidados a testemunhar acontece num cenário de uma festa de casamento. Não se diz quem são os noivos, nem qual a ligação que eles têm a Jesus. Na reflexão profética, o “casamento” aparece frequentemente como metáfora da relação de amor entre Deus e Israel. Aliás, a primeira leitura deste segundo domingo do tempo comum dá-nos bem conta disso. Devemos, portanto, situar e interpretar o “sinal” que Jesus vai realizar no contexto do “casamento” (na história de “aliança” e de comunhão) que Deus tem vindo a construir com o seu Povo.

Para João, o gesto realizado por Jesus em Caná da Galileia João foi o “início” dos seus “sinais”. Sendo o primeiro dos “sinais”, ele funciona como protótipo e pauta para a interpretação de outros gestos que se seguirão. Este primeiro “sinal” define o “programa” de Jesus e oferece-nos a chave para interpretar tudo aquilo que Jesus vai fazer daí para a frente.

 

MENSAGEM

O relato que João nos oferece sobre aquele “casamento” em Caná da Galileia está, do ponto de vista da coerência descritiva, cheio de lacunas… Quem eram aqueles noivos anónimos, que só são referidos de passagem e parecem não interessar para a história? Porque é que faltou o vinho e porque é que essa falta parece ser mais importante do que qualquer outra coisa? Porque é que se diz que a mãe de Jesus “estava lá” e o que é que ela tinha a ver com tudo aquilo? Porque é que naquela casa havia um número invulgar de descomunais talhas de pedra destinadas aos rituais de purificação? Qual a ligação de Jesus com aquele “casamento”? Porque é que, na descrição que João faz, o chefe da mesa e os serventes têm mais protagonismo do que os noivos? Porque é que o primeiro “sinal” de Jesus é algo tão banal como transformar água em vinho? Porque é que Jesus faz uma alusão misteriosa, que ninguém entende, à sua “hora”? Na verdade, João não parece interessado em fornecer-nos informações detalhadas sobre aquele casamento concreto. Os biblistas têm uma explicação óbvia para tudo isto: aquele cenário de “casamento” evoca uma outra realidade, uma realidade que ultrapassa uma simples festa nupcial de um jovem casal de galileus anónimos; aquele “casamento” é uma metáfora da “aliança” de amor entre Deus e o seu Povo. É a esta luz que temos de abordar este texto.

João começa por referir a presença, naquela festa de casamento, da “mãe de Jesus”, de Jesus e dos seus discípulos (vers. 1-2). No entanto, João parece fazer uma distinção entre a presença da mãe de Jesus, por um lado, e Jesus e os discípulos, por outro. A mãe de Jesus “estava lá”, como se pertencesse de direito àquela festa. Ela faz parte da comunidade da antiga “aliança”. Representa, neste cenário, o Israel fiel, a parte da comunidade israelita que não se conformava com a deterioração da “aliança” e esperava que o messias viesse dar um novo sentido à história de amor que unia Deus e o Povo. Em contrapartida, Jesus e os discípulos são apenas “convidados” nesse casamento. Eles estão ali, têm um papel a desempenhar; mas só integram aquela comunidade como “convidados”: na realidade, o lugar deles é numa outra comunidade, a comunidade da nova “aliança”.

A mãe de Jesus, figura do Israel fiel que espera o messias, interpela Jesus: “eles não têm vinho” (vers. 3). O vinho, na cultura véterotestamentária, era sinal de alegria e de festa (cf. Sir 40,20; Co 10,19). Também era símbolo do amor que une o esposo e a esposa (cf. Cant 1,2; 7,10; 8,2). Na história da relação entre Deus e o seu Povo, a certa altura “faltou o vinho”: o Povo (a esposa) não amava Deus (o marido) e não encontrava alegria nem sentido numa relação mediatizada por rituais externos e regulada por leis estéreis. A “aliança” entre Deus e o seu Povo era uma realidade seca e vazia, um compromisso formal, forçado, ritualista, onde não entrava o coração. O Povo vivia mergulhado numa tristeza sem fim, repetindo indefinidamente uma série de rituais religiosos que, no entanto, não satisfaziam a sua sede de vida e de felicidade. Esta realidade de uma “aliança” estéril e falida é representada pelas “seis talhas de pedra destinadas à purificação dos judeus” (vers. 6), que também “estavam ali” e pertenciam àquele cenário. O número seis evoca a imperfeição, o incompleto; a “pedra” evoca as tábuas de pedra da Lei do Sinai e os corações de pedra dos israelitas, duros e insensíveis, incapazes de amar, de que falava o profeta Ezequiel (cf. Ez 36,26); a referência à “purificação” evoca os ritos e exigências da antiga Lei que revelavam um Deus suscetível, zeloso, impositivo, que guarda distâncias: ora, um Deus assim pode-se temer, mas não amar. As talhas estão “vazias”, porque todo este aparato era inútil e ineficaz: não servia para aproximar o homem de Deus, mas sim para o afastar desse Deus difícil e distante.

A interpelação da “mãe” (a representante da comunidade fiel que esperava o messias para revitalizar a “aliança”) provoca uma resposta estranha de Jesus: “mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora” (vers. 4). Jesus distancia-se daquela realidade: aquela “aliança” está definitivamente morta e não pode ser revitalizada. A obra que Jesus vai fazer não se apoiará nas antigas instituições nem na Lei de Moisés. Aquele “mundo” já não lhe interessa. Ele prepara-se para apresentar uma novidade radical, uma novidade que estará em rutura com as instituições velhas da religião judaica. No entanto, essa novidade radical só se manifestará plenamente na cruz, no momento em que Ele der a vida até ao extremo e fizer nascer, do seu sangue derramado, um Homem novo, capaz de amar a Deus e os irmãos. Essa será a “hora” de Jesus, a “hora” em que nascerá a comunidade da nova “aliança” (cf. Jo 12,23.27; 13,1; 17,1).

João põe, ainda, a mãe de Jesus a intervir outra vez… Ela dirige-se aos “serventes” e diz-lhes: “fazei tudo o que Ele vos disser” (vers. 5). A frase reproduz uma outra dita pelo Povo no Sinai, no contexto da celebração da primeira “aliança”: “Tudo o que o Senhor disse, nós o faremos” (Ex 19,8). Aqueles “serventes” são os colaboradores do messias na obra que Ele vai realizar. A “mãe” propõe-lhes que trabalhem com Ele para que a nova “aliança” seja uma realidade.

Jesus manda encher as talhas de água (vers. 7). Cada uma delas levava entre oitenta e cento e vinte litros. É grandioso, é excessivo o dom que Jesus se prepara para oferecer. Como se compreende a ordem de Jesus aos serventes, se pouco antes tinha afirmado que ainda não tinha chegado a sua “hora”? O gesto que Jesus vai realizar não é a concretização da nova “aliança”; é apenas um gesto que anuncia a obra que Ele, por mandato de Deus, vai realizar: trazer à relação de Deus com os homens o “vinho novo e bom” da nova “aliança”.

Depois, por indicação de Jesus, os “serventes” levaram o conteúdo das talhas ao “chefe da mesa” (vers. 8). O “chefe de mesa” é o responsável pela organização do banquete. Representa aqui os líderes judaicos que presidiam às instituições da antiga “aliança”. São os que dirigem o sistema religioso vigente. Ainda não se aperceberam que o sistema religioso a que presidem é estéril e que não traz vida ao Povo de Deus. Para esta casta de privilegiados, tudo vai bem; o que interessa é manter a sua situação de privilégio.

O “chefe da mesa” provou a água transformada em vinho, mas não sabia de onde tinha vindo esse vinho. Constata a superioridade daquele “vinho” sobre o anterior e manifesta a sua surpresa por o vinho melhor aparecer no final (vers. 9-10). Para ele, o “vinho” velho era definitivo, não esperava nada melhor. Considerava que o sistema religioso vigente estava bem como estava. No entanto, não manifesta qualquer interesse em saber de onde ele vem aquele “vinho” melhor. Os líderes judaicos nunca reconhecerão que Jesus trouxe o “vinho novo”, o “vinho bom” da nova “aliança”; nunca reconhecerão Jesus como o messias que vem trazer a salvação que Israel esperava.

João termina o relato dizendo que este foi o primeiro dos “sinais” de Jesus. Com ele, Jesus “manifestou a sua glória”, como Deus tinha manifestado ao Povo a sua glória no monte Sinai, aquando da celebração da primeira “aliança” (cf. Ex 24,15-17). Jesus mostrou, neste gesto, que vinha de Deus para trazer o amor e a alegria à relação entre Deus e os homens. Ele irá, ao longo do seu ministério, realizando esse programa. A sua obra ficará completa na cruz (na “hora” de Jesus), quando derramar o seu sangue até ao extremo. Aí Ele mostrará aos homens a grandeza do amor de Deus e convidará os homens a deixarem-se envolver por esse amor. Nascerá, então, a comunidade da nova “aliança”.

O gesto de Jesus naquela festa de casamento em Caná da Galileia tornou evidente, para os discípulos, o “programa” que o Pai lhe tinha confiado (vers. 11). Os discípulos ao tomarem conhecimento desse projeto, acreditaram em Jesus e dispuseram-se a segui-l’O.

 

INTERPELAÇÕES

  • Qual é o lugar de Deus na vida e na história dos homens e mulheres do século XXI? Há já bastantes anos um filósofo decretou que “Deus está morto”; outros pensadores defenderam, depois disso, que os seres humanos devem assumir a sua história e a sua liberdade sem se sentirem tutelados e menorizados por uma entidade suprema; todos os dias muitos homens e mulheres que se cruzam connosco no caminho constroem as suas vidas numa completa indiferença face a Deus; a cada passo vão aparecendo valores que tomam conta da nossa vida e que ocupam o lugar de Deus… A indiferença face a Deus tornar-nos-á mais felizes e mais livres? A nossa autossuficiência será algo de que devemos orgulhar-nos? O evangelho deste domingo apresenta-nos Jesus como aquele que veio revitalizar a relação de amor e comunhão entre Deus e os homens. Dispomo-nos a escutar Jesus e a descobrir, guiados por Ele, o amor que Deus nos tem? Temos vontade de embarcar, ao lado de Jesus, nessa história de amor e de comunhão que Deus se propõe viver connosco?
  • No episódio das bodas de Caná, o evangelista João desafia-nos a repensar a nossa forma de responder ao Deus da comunhão e da “aliança”. De acordo com João, se o nosso envolvimento com Deus assentar no mero cumprimento de leis, de rituais externos, de orações de circunstância, de liturgias pomposas e vazias, rapidamente deixará de fazer sentido. Nesse caso, a nossa relação com Deus tornar-se-á uma relação insípida, a que falta o “vinho” da alegria e do amor; poderá mesmo chegar a ser um fardo insuportável, que mais cedo ou mais tarde nos fará desistir de Deus. Para respondermos adequadamente ao desafio de viver em comunhão com Deus, temos de escutar Jesus e de “fazer o que Ele nos disser”. Temos de aprender com Ele a escutar Deus, a acolher os projetos de Deus para nós e para o mundo, a amar até ao dom total de nós mesmos. Como é que vivemos a nossa relação com Deus? Limitamo-nos a uma vivência religiosa triste e aborrecida, feita de gestos externos e do cumprimento de regras mais ou menos irrelevantes, ou somos capazes de acolher o “vinho bom” que Jesus nos oferece? Somos capazes de acolher as propostas de Jesus e de aprender com Jesus a amar a Deus e aos nossos irmãos?
  • O “chefe de mesa” da história das bodas de Caná é figura dos líderes religiosos judaicos. Eles presidem aos destinos do Povo de Deus, mas os seus horizontes são bastante limitados. Instalados nas suas certezas e seguranças, acomodados aos seus privilégios de classe, estão satisfeitos com aquele sistema religioso vazio e hipócrita, que não liberta nem proporciona ao Povo de Deus uma existência livre e feliz. Quando a novidade de Deus lhes aparece à frente, eles não manifestam entusiasmo ou vontade de a acolher. A triste figura do “chefe de mesa” naquele casamento em Caná da Galileia constitui um aviso para todos aqueles que colocam os seus interesses e privilégios acima do bem dos seus irmãos; constitui também um alerta para os vivem instalados numa fé morna, requentada, pouco exigente, rotineira, “velha”, que não tem lugar para as interpelações e desafios que Deus continuamente nos lança. O “chefe de mesa” que aparece no relato das bodas de Caná tem alguma coisa a ver com a forma como nós vivemos a religião?
  • Os “serventes” fazem o que Jesus lhes diz e colaboram com Ele de forma a fazer chegar à mesa do banquete o “vinho novo” que Jesus tem para oferecer. Correspondem aos discípulos, aqueles que Jesus chama para O seguirem e para colaborarem com Ele na construção do Reino de Deus. Nós, discípulos de Jesus, estamos disponíveis para colaborar com Ele no sentido de “colocar na agenda” do mundo e da história a proposta de Jesus veio trazer? O que podemos fazer para que o “vinho novo e bom” de Jesus chegue à mesa da humanidade?
  • Todos os dias nos deparamos com um sem número de homens e mulheres que vivem tristes e amargurados, condenados pela sociedade, julgados pelos seus irmãos, votados à indiferença e ao abandono, feridos na sua dignidade, roubados nos seus direitos, que anseiam por libertação e esperança. Quando essas pessoas aparecem nas nossas comunidades cristãs à procura de ajuda e compreensão, são acolhidas? Oferecemos-lhe o “vinho novo” de Jesus, ou as leis velhas de uma religião que condena, que ameaça, que aumenta o sofrimento e a amargura? Falamos-lhes da ternura de Deus, ou de um deus sem misericórdia, incapaz de compreender o sofrimento dos seus filhos e filhas?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. A PALAVRA INICIAL DE ABERTURA E A ATENÇÃO À PALAVRA.

Depois da saudação inicial, o sacerdote pode exprimir, através de uma breve admonição, um aspeto particular da celebração do dia. Procure estar atento à assembleia concreta. Pode apoiar-se no cântico que for cantado no início. Tente dirigir-se de maneira direta e concreta aos homens e mulheres que o escutam e olham para ele. Depois do Amen da Oração de Coleta, faça-se um breve momento de verdadeiro silêncio. O presidente dirija o seu olhar para o lugar da proclamação da Palavra, “levando” a assembleia a olhar também para o polo de atenção que é o lugar da Palavra.

3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:

“Deus, que Te revelas como esposo do teu povo e chegas mesmo a considerar a tua Igreja como tua esposa, nós Te damos graças e Te bendizemos pelos gestos de atenção e pela ternura imensa que nos manifestas.

Nós Te pedimos por todos os esposos e por todos os matrimónios, mas sobretudo pelos esposos cristãos, que chamaste a ser sinais do teu amor e da tua fidelidade”.

 

No final da segunda leitura:

“Deus só e único, Deus de todos os cristãos, que ages em nós, nós Te damos graças pelo teu Espírito Santo, que nos comunicas sem cessar na liturgia e na proclamação da tua Palavra.

Nós Te pedimos pela reconciliação das Igrejas e pela unidade no interior de cada comunidade cristã. Que os teus filhos saibam discernir em qualquer circunstância o que vem do teu único Espírito”.

 

No final do Evangelho:

“Jesus, nosso Mestre, nós Te damos graças pelo sinal que realizaste em Caná, manifestando as bodas de Deus com o seu povo. Nós Te bendizemos pelo sinal do vinho e o cálice da nova Aliança.

Nós Te pedimos por todas as pessoas à nossa volta que estão privadas da alegria que Tu nos revelas com a tua presença e com o dom do teu Espírito de festa”.

4. BILHETE DE EVANGELHO.

Passam-se coisas nesta sala da boda. Maria, com a sua intuição feminina, percebe o embaraço do mestre do banquete: vai faltar vinho. Di-lo a Jesus. Procurava ela informá-l’O apenas? Pensava ela que Ele podia fazer qualquer coisa? Jesus pede a sua mãe para renovar o seu ato de fé. Como há trinta anos, ela pede aos serventes o que o anjo lhe havia pedido: “fazei o que Ele vos disser! Tende confiança n’Ele!” E eis que as talhas destinadas às abluções rituais da religião judaica vão servir para manifestar a plenitude do dom de Deus e a nova relação dos homens com Deus. É proposto um novo rito, vai ser selada uma nova Aliança. Uma Aliança que selará para sempre a relação de Deus com a humanidade.

5. À ESCUTA DA PALAVRA.

Para São João, os “milagres” são sempre “sinais” que nos reenviam para além da materialidade dos factos. Será bom olhar com mais atenção esta água mudada em vinho. A água é um elemento vital. Mas é, antes de mais, um elemento ordinário e bruto. A água encontra-se na natureza, não precisa de ser fabricada. O vinho é fruto da vinha, mas também do trabalho do homem, como dizemos na Eucaristia. Jesus manda encher as talhas de água, a água que é símbolo da nossa vida ordinária, de todos os dias. Jesus toma esta água ordinária para a transformar. Não com uma varinha mágica, mas com a força do Espírito Santo, com a força do amor. É porque este vinho é melhor que o vinho dos homens… Por este “sinal”, Jesus quer vir ter connosco na nossa vida ordinária, para aí colocar a sua presença de amor, o amor do Pai, o Espírito Santo. Toma a nossa vida, com as nossas alegrias, os nossos amores, as nossas conquistas humanas, importantes mas tantas vezes efémeras, com os nossos tédios, os nossos dias sem gosto e sem cor, os nossos fracassos e mesmo os nossos pecados, também eles ordinários. E aí, Ele “trabalha-nos” pelo seu amor, no segredo, para fazer brotar em nós a vida que tem o sabor do vinho do Reino. Isto, Ele cumpre-o em particular cada vez que participamos na Eucaristia. Façamos do “tempo ordinário” o tempo do acolhimento do trabalho em nós do Vinhateiro divino!

6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Nesta semana em que se evoca a Unidade (durante a semana inicia-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos), rezar a Oração Eucarística II pela Reconciliação, pois o tema da unidade está aí claramente explicitado.

7. PALAVRA PARA O CAMINHO…

Na segunda leitura, São Paulo fala do mesmo Espírito, do mesmo Senhor, do mesmo Deus que realiza tudo em todos: os nossos dons são-nos oferecidos. O mesmo e único Espírito distribui os seus dons a cada um, segundo a sua livre vontade. No uso que fazemos dos nossos dons, procuremos a humildade: sobretudo não desprezemos aqueles que receberam, pelo menos aparentemente, dons menos vistosos ou menos impressionantes! Deus age à sua maneira, que não é a nossa. Geralmente, estamos habituados a olhar o outro à nossa maneira e não à maneira de Deus, a ver quase só os seus defeitos e não os seus dons. Ao longo da semana, procuremos valorizar o dom que o irmão é para nós, em particular, aqueles com quem nos encontramos em casa, na comunidade, no trabalho, no estudo…

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org