ANO C
2º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO
Tema do 2º Domingo do Tempo do Advento
Na segunda etapa do “caminho de advento”, a liturgia lembra-nos a próxima vinda de Deus à nossa história e à nossa vida. Deixa-nos algumas indicações, bastante concretas e bastante incisivas, sobre a forma de nos prepararmos para acolher o Senhor que vem.
Na primeira leitura, um profeta chamado Baruc anuncia à cidade de Jerusalém, desolada e vestida de viúva, que o tempo da sua tristeza está a terminar: Deus vai reunir os seus filhos, dispersos por terras distantes, e reconduzi-los à sua terra, numa procissão triunfal. Deus, no seu amor infinito, dispõe-se a vir ao encontro do seu Povo, a sarar as suas feridas e a abrir-lhe de novo as portas da esperança.
No Evangelho o profeta João Batista desafia Israel a preparar-se para a iminente intervenção de Deus na história dos homens. Nesse sentido, o Povo é chamado abandonar caminhos de infidelidade e de autossuficiência e a converter-se a Deus de todo o coração. Os que acolherem esse convite e selarem a sua opção com um mergulho purificador nas águas do rio Jordão, passarão a integrar o novo Israel, a comunidade renovada que espera a chegada do Messias de Deus.
A segunda leitura fala-nos da forma como a comunidade cristã de Filipos, na Macedónia oriental, espera a vinda do Senhor. Os cristãos de Filipos formam uma comunidade entusiasta, generosa, esforçada, empenhada em crescer no amor, disposta a colaborar no anúncio do Evangelho, determinada em dar testemunho de Jesus. Não é uma comunidade perfeita; mas é uma comunidade constituída por pessoas que se esforçam por crescer na santidade, enquanto aguardam o dia da chegada do Senhor.
LEITURA I – Baruc 5,1-9
Jerusalém, deixa a tua veste de luto e aflição
e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus.
Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus
e coloca sobre a cabeça o diadema da glória do Eterno.
Deus vai mostrar o teu esplendor
a toda a criatura que há debaixo do céu;
Deus te dará para sempre este nome:
«Paz da justiça e glória da piedade».
Levanta-te, Jerusalém,
sobe ao alto e olha para o Oriente:
vê os teus filhos reunidos desde o Poente ao Nascente,
por ordem do Deus Santo,
felizes por Deus Se ter lembrado deles.
Tinham-te deixado, caminhando a pé, levados pelos inimigos;
mas agora é Deus que os reconduz a ti,
trazidos em triunfo, como filhos de reis.
Deus decidiu abater todos os altos montes e as colinas seculares
e encher os vales, para se aplanar a terra,
a fim de que Israel possa caminhar em segurança,
na glória de Deus.
Também os bosques e todas as árvores aromáticas
darão sombra a Israel, por ordem de Deus,
porque Deus conduzirá Israel na alegria,
à luz da sua glória,
com a misericórdia e a justiça que d’Ele procedem.
CONTEXTO
O autor do livro de Baruc apresenta-se a si próprio como Baruc, filho de Néria, e diz estar na Babilónia com os exilados de Judá (cf. Br 1,1-2). Quem será este Baruc? No livro de Jeremias aparece um Baruc, filho de Néria, que desempenhou um papel relevante na vida do profeta Jeremias: foi seu secretário (cf. Jr 32,12-16), porta-voz (cf. Jr 36,4-32) e companheiro de cativeiro no Egito (cf. Jr 43,1-7). Jeremias dedicou-lhe mesmo um oráculo pessoal (cf. Jr 45,1-5).
De acordo com o livro, este Baruc teria estado entre os exilados na Babilónia e aí teria desempenhado um papel significativo. No entanto, é ponto assente, para os estudiosos da Bíblia, que o livro não vem do secretário de Jeremias, e que não foi composto na época do Exílio dos judeus na Babilónia. Embora apresente alguns dados sobre o tempo do Exílio e a vida dos exilados, o livro foi redigido bem mais tarde, talvez em fases diversas e a partir de vários escritos independentes. A redação final terá sido feita por volta dos sécs. III ou II a.C., provavelmente na Diáspora judaica. O livro – que chegou até nós em grego – não foi considerado como Escritura Sagrada pelos judeus palestinenses; por isso, nunca integrou o Cânone da Bíblia Hebraica.
Com influências de Jeremias, de Ezequiel e do Deutero-Isaías, o livro de Baruc exorta o Povo a converter-se e a reconciliar-se com Javé; ao mesmo tempo, convida Judá a manter viva a esperança, confiando sempre na fidelidade de Deus às promessas feitas.
O texto que a liturgia deste segundo domingo do advento nos propõe como primeira leitura, faz parte de uma exortação e consolação a Jerusalém, que aparece na parte final do livro (cf. Br 4,5-5,9). Antes, Baruc tinha convidado o Povo à confissão dos seus pecados (cf. Br 1,15-3,8); tinha também manifestado a certeza de que Judá, iluminado pela luz da sabedoria, voltaria a viver no “temor de Deus” (cf. Br 3,9-4,4). Certo de que Deus tinha perdoado ao seu Povo, o profeta convida Jerusalém a ter coragem (cf. Br 4,5-37) e a alegrar-se com a atitude misericordiosa de Javé (cf. Br 5,1-9).
MENSAGEM
O profeta dirige a sua atenção para a cidade de Jerusalém, a cidade mártir deixada em ruínas pelos exércitos de Nabucodonosor, em 586 a.C.; anuncia a sua libertação, a sua restauração definitiva e o regresso do cativeiro dos seus habitantes. As imagens utilizadas para falar de Jerusalém neste cântico triunfal são muito belas e muito expressivas.
A cidade arruinada e reduzida a escombros que as tropas babilónicas deixaram era como uma viúva triste, vestida de luto, mergulhada na aflição e no desespero, despojada de todos os enfeites que a tornaram bela. Os seus queridos filhos tinham-lhe sido arrancados dos braços e levados cativos para uma terra estrangeira. Convencida de que nunca mais os veria, Jerusalém tinha ficado só e desolada, derramando lágrimas sem fim durante os anos pesados do seu luto. Devastada pela dor e pela saudade, Jerusalém tinha perdido qualquer esperança de um futuro feliz.
Mas, eis que depois de muitos anos, um profeta interpela a cidade e anuncia-lhe que o seu tempo de luto terminou. Convida-a a tirar as vestes de luto e de aflição e a revestir-se novamente dos adornos que a tornaram bela. Aquela viúva vestida de luto vai tornar-se novamente uma mulher cheia de beleza e de encanto, enfeitada com as suas joias (vers. 1-3).
Porquê? Deus convida Jerusalém a olhar para oriente, na direção em que partiram os seus filhos levados cativos pelos babilónios. Eles foram reunidos por Deus e estão a ser conduzidos novamente para Jerusalém, numa marcha triunfal, como se fosse a marcha de um cortejo real (vers. 5-6). Para lhes facilitar o caminho de regresso, Deus vai rebaixar os altos montes e elevar os vales, a fim de que os filhos de Jerusalém possam caminhar facilmente, num regresso feliz à sua terra e aos braços da sua mãe (vers. 7). A natureza associar-se-á a esta marcha triunfal: os bosques darão sombra aos caminhantes e as árvores aromáticas encherão os caminhos de perfumes (vers. 8). O próprio Deus caminhará à frente dos exilados, indicando-lhes o caminho e tratando-os com justiça e misericórdia (vers. 9). Será um novo Êxodo, como o que outrora trouxe os hebreus do Egito, a terra da escravidão, para a terra da liberdade; mas, desta vez, os caminhantes percorrerão um caminho fácil, direto, sem cansaços, sem obstáculos e sem desencontros.
Jerusalém, a cidade renovada que reencontrou a alegria e a felicidade, será uma cidade totalmente renovada. Por isso, será designada por nomes novos: “Paz da justiça e glória da piedade” (vers. 4). Nos seus tribunais tomar-se-ão decisões justas, que criarão um clima de harmonia e de paz; e os habitantes da cidade viverão na fidelidade a Javé, envoltos pelo esplendor de Deus.
Esta página do livro de Baruc é um dos pontos altos da revelação véterotestamentária. Em tempo de advento, convida-nos a deixarmo-nos conduzir pelo Senhor. Ele vem ao nosso encontro para nos levar, através de montanhas e vales aplanados, à cidade onde encontraremos a vida e a paz verdadeiras.
INTERPELAÇÕES
- O cenário da Jerusalém devastada, mergulhada no luto, sem perspetivas de futuro, tem analogias com o cenário em que, tantas vezes, a nossa vida se desenrola… As guerras, as violências, as injustiças que vemos por todo o lado, preocupam-nos e deprimem-nos; a miséria, as condições indignas em que vivem tantos dos nossos irmãos e irmãs, deixam-nos envergonhados e revoltados; as doenças que ameaçam a nossa vida ou a vida daqueles que amamos fazem-nos sentir a nossa vulnerabilidade e fragilidade; os problemas, as pressões, o cansaço, o desânimo, minam-nos, enfraquecem-nos e dão-nos vontade de desistir da vida… Valerá a pena viver assim, cercados de preocupações e de incertezas, com medo do que o futuro nos vai trazer? É neste cenário que ecoam as palavras que Deus disse à desolada Jerusalém e que hoje Ele repete para nós: “deixa a tua veste de luto e aflição e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus”. Não, a nossa vida não está perdida, sem rumo e sem perspetivas. Deus dispõe-se a vir ao nosso encontro e a abrir-nos novamente as portas da esperança. A chegada de Deus oferece-nos a oportunidade de nos levantarmos e de iniciarmos um caminho novo. Neste tempo de advento, preparando a chegada do Senhor, somos confrontados com esta proposta libertadora. Há lugar para ela no nosso coração? Estamos dispostos a abandonar a situação de “pobres sofredores” em que nos instalamos comodamente, para nos levantarmos, irmos ao encontro de Deus, acolhermos a proposta salvadora que Ele nos vem trazer?
- De onde vêm as misérias que escurecem o nosso mundo? De onde vêm as “doenças” que afetam a nossa sociedade? De onde vêm as “moléstias” que fazem sofrer as nossas comunidades cristãs? De onde vêm as “feridas” que tornam a nossa vida mais triste e sem esperança? Não virão do nosso egoísmo, da nossa ambição, do nosso orgulho, da nossa vaidade, do nosso comodismo? Não virão da nossa autossuficiência e da nossa surdez à Palavra de Deus? Não virão da nossa indiferença face às indicações que Deus não cessa de nos dar? O tempo do advento é o tempo em que abrimos de novo o coração ao Deus que vem encontrar-se connosco. Dispomo-nos, ao longo deste “caminho de advento”, a dar mais espaço à escuta de Deus? Saberemos, neste advento, encontrar tempo para falar com Deus e para escutar a sua Palavra?
- “Vê os teus filhos… felizes por Deus Se ter lembrado deles” (Br 5,5) – diz Deus a Jerusalém. O tempo do advento é o tempo em que somos convidados a redescobrir que Deus se lembra de nós. Conscientes disso, avançamos ao encontro d’Ele com o coração cheio de alegria, de gratidão, de serena confiança na sua bondade e no seu amor. Vamos lembrar-nos disto em cada momento e em cada passo deste “caminho de advento”?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 125 (126)
Refrão 1: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor:
por isso exultamos de alegria.
Refrão 2: O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.
Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
parecia-nos viver um sonho.
Da nossa boca brotavam expressões de alegria
e de nossos lábios cânticos de júbilo.
Diziam então os pagãos:
«O Senhor fez por eles grandes coisas».
Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
estamos exultantes de alegria.
Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
como as torrentes do deserto.
Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria.
À ida, vão a chorar,
levando as sementes;
à volta, vêm a cantar,
trazendo os molhos de espigas.
LEITURA II – Filipenses 1,4-6.8-11
Irmãos:
Em todas as minhas orações,
peço sempre com alegria por todos vós,
recordando-me da parte que tomastes na causa do Evangelho,
desde o primeiro dia até ao presente.
Tenho plena confiança
de que Aquele que começou em vós tão boa obra
há de levá-la a bom termo até ao dia de Cristo Jesus.
Deus é testemunha
de que vos amo a todos no coração de Cristo Jesus.
Por isso Lhe peço que a vossa caridade
cresça cada vez mais em ciência e discernimento,
para que possais distinguir o que é melhor
e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo,
na plenitude dos frutos de justiça
que se obtêm por Jesus Cristo,
para louvor e glória de Deus.
CONTEXTO
A cidade de Filipos, situada na Macedónia oriental, era uma cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição dos governantes das províncias locais e dependia diretamente do imperador. Gozava dos mesmos privilégios das cidades de Itália e os seus habitantes tinham cidadania romana. Paulo chegou a Filipos pelo ano 49 ou 50, no decurso da sua segunda viagem missionária, acompanhado de Silvano, Timóteo e Lucas (cf. At 16,1-40). Da sua pregação nasceu a primeira comunidade cristã em solo europeu.
A comunidade cristã de Filipos era uma comunidade entusiasta, generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da coleta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2Cor 8,1-5). Paulo nutria pelos cristãos de Filipos um afeto especial; e os filipenses, por seu turno, tinham Paulo em grande apreço. Apesar de tudo, a comunidade cristã de Filipos não era perfeita: os altivos patrícios romanos de Filipos tinham alguma dificuldade em assumir certos valores como o desprendimento, a humildade e a simplicidade.
Paulo escreve aos Filipenses numa altura em que estava na prisão (não sabemos se em Cesareia, em Roma, ou em Éfeso). Os filipenses tinham-lhe enviado, por um membro da comunidade chamado Epafrodito, uma certa quantia em dinheiro, a fim de que Paulo pudesse prover às suas necessidades. Na carta, Paulo agradece a preocupação dos filipenses com a sua pessoa (cf. Flp 4,10-20); exorta-os a manterem-se fiéis ao Evangelho de Jesus e a incarnarem os valores que marcaram a vida de Cristo (“tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus” – Flp 2,5).
O texto que a liturgia deste segundo domingo do advento nos propõe é, praticamente, o início da Carta aos Filipenses. Depois de saudar “os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos” (Flp 1,1), Paulo manifesta aos seus amigos de Filipos o apreço que eles lhe merecem e as expetativas que tem em relação à comunidade cristã da cidade.
MENSAGEM
Paulo começa por dizer aos seus caros amigos de Filipos que, nas suas orações, nunca se esquece de pedir a Deus por eles (vers. 4). Sente sempre uma grande alegria quando se lembra da forma como os filipenses o acolheram, como abraçaram o Evangelho que Paulo lhes deu a conhecer, como se comprometeram com o seguimento de Jesus. Ainda agora, prisioneiro por causa do Evangelho, Paulo recebeu na prisão a ajuda económica que os Filipenses lhe enviaram; e isso mostra como os filipenses continuam generosos, dedicados e solidários, dando um testemunho coerente dos valores de Jesus (vers. 5). Tudo isso é obra de Deus; e Paulo confia que Deus continuará a cuidar de que essa bela obra cresça cada vez mais (vers. 6). Paulo, da sua parte, sente uma grande ternura (o apóstolo utiliza mesmo a palavra grega “splagkvov”, que designa o “seio materno”, para expressar o seu amor “maternal” pelos seus filhos de Filipos) por esta comunidade atenta às necessidades dos evangelizadores, solidária com todos os que dão a sua vida à causa do Evangelho, dedicada inteiramente à obra de Deus (vers. 8).
Estará, então, tudo feito? O caminho que os filipenses são chamados por Deus a percorrer está completo? É claro que não. O caminho da santidade é um caminho sempre a fazer-se, até ao encontro final com Deus. Plenamente consciente disso, Paulo continuará a pedir a Deus que faça a caridade dos filipenses crescer cada vez mais (vers. 9); continuará a pedir a Deus que os filipenses saibam distinguir a cada passo aquilo que é melhor, aquilo que os torna mais puros e mais santos (vers. 10). É nesse esforço nunca terminado de crescimento, de compromisso, de fidelidade, de caridade, de generosidade, de solidariedade, que a comunidade dos santos espera o Senhor que vem (vers. 11).
INTERPELAÇÕES
- Em tempo de advento, a liturgia convida-nos a olhar para uma comunidade cristã que espera a vinda do Senhor: a comunidade cristã da cidade de Filipos. Como qualquer comunidade cristã, não é uma comunidade perfeita: continua a ter necessidade de crescer sempre mais no caminho que leva à santidade; mas é uma comunidade comprometida, empenhada, generosa, que sabe que é chamada por Deus, enquanto caminha na história, a viver de forma coerente com o Evangelho que acolheu. Como é que, nas nossas comunidades cristãs, se vive este tempo de espera do Senhor? Este tempo poderá ser, para as nossas comunidades cristãs, um tempo de purificação, de conversão, de discernimento dos desafios de Deus, de renovação da fé e do compromisso, de reforço da caridade, da generosidade, da partilha, do perdão, do entendimento?
- A comunidade cristã de Filipos é uma comunidade que se interessa pela obra da evangelização. O apoio que dá a Paulo não resulta apenas de um sentimento de gratidão pessoal para com um apóstolo que trouxe à cidade de Filipos a Boa nova de Jesus; mas traduz o compromisso daquela Igreja com o esforço de evangelização que o missionário Paulo, na linha da frente do combate pelo anúncio do Evangelho, leva a cabo. Os cristãos de Filipos entenderam que a Igreja é missionária (“Ide pelo mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura” – Mc 16,15); e sentem que é ser dever participar da missão. As nossas comunidades cristãs sentem este imperativo missionário? Sentem a necessidade de fazer Jesus nascer para todos os povos? Estão atentas às necessidades e são solidárias com aqueles que dão a sua vida à causa do anúncio de Jesus? É com ternura e carinho que, nas nossas comunidades cristãs, se acolhem os que anunciam o Evangelho – os catequistas das crianças, dos jovens, dos adultos?
- É possível que tenhamos queixas da Igreja e que não nos revejamos em algumas afirmações e testemunhos de pessoas que são referência na comunidade cristã; é possível que não nos identifiquemos com certas formas de celebrar a fé, ou com algumas atitudes de falta de misericórdia e de caridade que acontecem dentro dos espaços das nossas igrejas; é possível que nos sintamos desiludidos com a forma como, muitas vezes, os cristãos incarnam na história o testemunho de Jesus… Mas, em termos pessoais, estará cada um de nós a fazer tudo o que está ao seu alcance para que a nossa comunidade cristã seja a casa da comunhão, da fraternidade, do entendimento, da caridade? Neste tempo de espera do Senhor, que contributo podemos pessoalmente dar para que a nossa comunidade cristã se torne uma “casa” onde Jesus tem lugar?
ALELUIA – Lucas 3,4.6
Aleluia. Aleluia.
Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas
e toda a criatura verá a salvação de Deus.
EVANGELHO – Lucas 3,1-6
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério,
quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia,
Herodes tetrarca da Galileia,
seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide
e Lisânias tetrarca de Abilene,
no pontificado de Anás e Caifás,
foi dirigida a palavra de Deus
a João, filho de Zacarias, no deserto.
E ele percorreu toda a zona do rio Jordão,
pregando um batismo de penitência
para a remissão dos pecados,
como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías:
«Uma voz clama no deserto:
‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
Sejam alteados todos os vales
e abatidos os montes e as colinas;
endireitem-se os caminhos tortuosos
e aplanem-se as veredas escarpadas;
e toda a criatura verá a salvação de Deus’».
CONTEXTO
No final do ano 27 ou princípio do ano 28 apareceu nas margens do rio Jordão, nas franjas do deserto, um “profeta” chamado João. As pessoas chamavam-lhe “o batista”, porque ele incluía na sua pregação a proposta de “um batismo de conversão para o perdão dos pecados”. A pregação de João atraiu multidões e provocou um certo alvoroço no cenário religioso palestino. A catequese cristã viu neste João o profeta que veio preparar o caminho para a chegada de Jesus.
Lucas, como compete a alguém que “tudo investigou cuidadosamente desde a origem” (Lc 1,3), faz questão de nos enquadrar historicamente no tempo e no contexto histórico da época. Nesse sentido, refere sete figuras históricos que dominavam o panorama político e religioso dessa altura: Tibério, o imperador de Roma entre os anos 14 e 37; Pôncio Pilatos, que foi prefeito romano da Judeia entre os anos 26 e 36; Herodes Antipas, tetrarca da Galileia e da Pereia entre os anos 4 a.C e 39; Herodes Filipe, tetrarca da Itureia, e da Traconítide, a norte e oriente do mar da Galileia; Lisânias, tetrarca de Abilene, na Beqaa libanesa; Anás, o velho sumo-sacerdote que tinha ocupado o cargo entre os anos 5 e 15, mas que continuava a ter uma influência decisiva na sociedade judaica da época; e Caifás, o sumo-sacerdote em funções na altura em que João começa a dar o seu testemunho profético (foi sumo-sacerdote entre os anos 18 e 36). Estamos, segundo Lucas, “no décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério”.
O cenário geográfico onde João vai desenvolver o seu ministério profético é a Pereia (território sob jurisdição de Herodes Antipas), na margem oriental do rio Jordão. O local exato onde João batizava poderá ser uma pequena localidade chamada atualmente Qasr El Yahud, situada perto de Jericó, a cerca de dez quilómetros do Mar Morto.
MENSAGEM
O Evangelho deste segundo domingo do advento começa com uma referência a diversos personagens que tinham um lugar de relevo no xadrez político, social e religioso da época. Ao dar-nos esse enquadramento, Lucas não está apenas a dizer-nos que a “história de salvação” que vai contar-nos é uma história concreta, ancorada em acontecimentos concretos e ligada a uma terra concreta; mas está, sobretudo, a dizer-nos que o acontecimento decisivo da história humana – a vinda de Deus ao mundo dos homens – se prepara e acontece fora do âmbito de influência dos grandes do mundo. A “palavra de Deus” que prepara o encontro decisivo entre Deus e a humanidade dirige-se a um homem desconhecido e sem influência, que não vive num palácio de poder e abundância, mas vive no deserto desolado e esquecido. Esse homem chama-se, simplesmente, João e não tem qualquer papel de relevo na sociedade da época. É assim que Deus age; é assim – na simplicidade, sem se impor nem dar nas vistas – que Deus concretiza o seu projeto de salvação para o mundo e para os homens.
Quem é esse João, chamado “o batista”? É o filho do sacerdote Zacarias e da Isabel, parente de Maria, referidos no “Evangelho da Infância de Jesus” (cf. Lc 1,5-25; 39-80). Apesar de pertencer a uma família sacerdotal, João não exerce funções sacerdotais. Aparentemente tinha rompido com o templo, com a sua liturgia e os seus rituais de purificação inúteis, e tinha-se retirado para o deserto, longe das intrigas dos palácios dos poderosos e do ruído caótico dos átrios sagrados onde diariamente se exibiam os sacerdotes e os doutores da Lei. Foi, portanto, no deserto, que a Palavra de Deus foi dirigida a João (vers. 2); e foi no deserto que João começou a fazer ouvir a sua voz profética.
Contudo, o lugar onde o profeta João se estabeleceu era um lugar privilegiado para que a Palavra de Deus pudesse ecoar. Embora fosse um lugar desabitado, afastado da agitação e da confusão das cidades, era um local por onde passava muita gente, pois estava ao lado da estrada que ligava Jerusalém com as regiões situadas a oriente do rio Jordão. Além disso, aquele lugar estava mesmo ao lado da “porta” por onde os hebreus, vindos do Egito, tinham entrado na Terra Prometida (cf. Js 4,13-19): sugeria, por isso, a passagem da escravidão para a liberdade, a “passagem” da “vida velha” para uma “vida nova”.
Instalado no deserto de Judá, o profeta João escutava Deus e refletia sobre o projeto de Deus. Estava consciente de que a comunidade do Povo de Deus atravessava uma crise profunda; e tinha consciência de que essa crise resultava do abandono de Deus. Comodamente instalado nas suas seguranças e nos seus rituais religiosos cheios de pompa, Israel tinha-se afastado irremediavelmente de Deus e dos compromissos que assumira com Deus no âmbito da Aliança. O próprio templo tinha-se tornado um lugar iníquo, onde se praticava um culto estéril, que não aproximava o Povo do seu Deus. O Povo de Deus e até mesmo a terra de Israel estavam contaminados pelo pecado. João acreditava na iminência de uma intervenção decisiva de Deus, que poria fim a essa história de pecado. Acreditava também que a forma mais adequada de preparar a chegada iminente de Deus seria através de uma conversão radical, de uma completa mudança de vida, de um regresso incondicional a Deus. É essa “conversão” que João começa a propor a todos aqueles que vêm ao seu encontro. Na perspetiva de João, quem acolhesse essa proposta de conversão, passava a integrar a comunidade da salvação; quem não a acolhesse, tinha que se sujeitar à ira de Deus.
João começa, então, a percorrer “toda a região do Jordão”, a pregar “um batismo de conversão (“baptisma metanoias”) para a remissão dos pecados” (vers. 3). A palavra “metanoias” é um conceito central na proposta de João. Sugere a decisiva transformação da vontade, uma mudança radical de consciência, uma transformação total do homem, uma nova atitude perante a vida, uma revolução completa dos valores que servem de base à construção da própria existência. “Conversão” – a proposta que João lança a todos aqueles que encontra nas margens do rio Jordão – significa uma atitude de vida completamente nova, que leve o homem a aproximar-se novamente de Deus, a caminhar de acordo com a Palavra de Deus, a viver novamente de Deus e para Deus.
Àqueles que aceitavam a proposta de conversão, João sugeria um gesto: um mergulho renovador nas águas do rio Jordão. O judaísmo conhecia, aliás, diversos rituais de purificação através da água. Ali ao lado, na aldeia de Kûmran, a seita judaica dos Essénios praticava várias vezes ao dia rituais de purificação em pequenas piscinas preparadas para esse efeito, onde os membros da seita entravam e se lavavam para renovarem a sua situação de pureza. Mas o “batismo” que João propunha tinha um enquadramento diferente: era feito em água viva – não em água “morta”, como em Kûmran, mas em água corrente –, uma única vez. Apontava para uma purificação total e significava um novo começo, o início de uma vida nova. Não era um ritual privado, pois o crente não mergulhava na água sozinho; era João quem o submergia, o que significava que o crente aceitava o convite de Deus que lhe chegava através de João. João era o mediador, através do qual a proposta de salvação chegava ao crente. O “batizado” comprometia-se solenemente a abandonar o pecado, passando a integrar a comunidade do novo Israel, do Povo que esperava com o coração renovado a chegada de Deus.
O Evangelho de hoje conclui-se com uma citação tomada do Deutero-Isaías (cf. Is 40,3-5), onde anuncia aos exilados na Babilónia a intervenção libertadora de Deus, o regresso a casa dos exilados, o “milagre” de um novo Êxodo da terra da escravidão para a terra da liberdade. Com essa citação, Lucas sugere que a voz de João, escutada nas franjas do deserto de Judá, protagoniza um anúncio semelhante: aproxima-se o momento da intervenção salvadora de Deus e o Povo de Deus tem de preparar-se. Deverá endireitar as veredas estreitas, altear os vales cavados, abater os montes e as colinas que tiram o fôlego aos caminhantes e os impedem de contemplar horizontes mais largos… As imagens utilizadas referem-se aos “obstáculos” que precisamos de remover porque nos impedem de caminhar ao encontro dessa vida de liberdade e de graça que Deus aponta aos seus filhos.
INTERPELAÇÕES
- João, o profeta que apareceu no vale do rio Jordão a pregar “um batismo de conversão para a remissão dos pecados”, tinha como missão preparar os homens para a chegada de Jesus. A sua voz aparece todos os anos a definir as linhas do “caminho do advento”, o caminho que somos convidados a percorrer neste tempo, a fim de nos prepararmos para acolher o Senhor que vem. Ainda antes de mergulharmos nos pormenores da mensagem de João, interroguemo-nos sobre as nossas disposições em relação a esse Jesus que vem ao nosso encontro: queremos realmente, neste advento, preparar-nos para acolher o Senhor? Na nossa vida há lugar para Jesus? A proposta de vida que Jesus veio trazer aos homens e ao mundo é algo que nos interessa, algo que queremos verdadeiramente acolher? Estamos dispostos a escutar Jesus, a deixar-nos contagiar pela mensagem que Ele nos veio trazer, a assumir o seu estilo de vida, a deixar-nos contaminar pelo seu amor a Deus e aos seres humanos? Nas nossas comunidades cristãs, no meio de tantas atividades, de tantas programações, de tantas reuniões, de tantas festas, de tantos problemas de organização e de administração, há espaço para Jesus e para a sua Boa nova?
- João propunha, àqueles que vinham ao seu encontro, um “batismo de conversão”. A “conversão” (“metanoia”) significa uma mudança radical do sentido da existência, uma inflexão no caminho que estamos a percorrer, de forma a que voltemos novamente para Deus e para o seu amor… Exige uma revisão da nossa forma de pensar, da nossa forma de avaliar, da nossa forma de julgar, a fim de que passemos a ver o mundo, os outros homens e mulheres e nós próprios com os olhos bondosos e compassivos de Deus; concretiza-se numa mudança que nos faça abandonar comportamentos egoístas, arrogantes, prepotentes, para passarmos a agir com amor, com bondade, com mansidão, com compaixão, com misericórdia; implica deixarmos de viver centrados em nós, nos nossos programas e projetos pessoais, para passarmos a viver para o serviço humilde a Deus e aos irmãos; exige uma revisão contínua dos nossos valores, das nossas opções, das nossas prioridades, de forma a que Deus ocupe, na construção da nossa vida, o lugar que merece… Estamos disponíveis, neste tempo de preparação para a vinda de Jesus, para uma mudança desse tipo?
- Lucas, recorrendo a uma expressão do Deutero-Isaías, vê a “conversão” pedida por João como um “endireitar as veredas”, “altear os vales” cavados, “abater os montes e as colinas”, “endireitar os caminhos tortuosos”, “aplanar as veredas escarpadas” que dificultam o nosso encontro com o Senhor que chega com a sua oferta de salvação. Quais são os obstáculos e as resistências que impedem o nosso encontro com Jesus? Quais são as veredas torcidas que temos de endireitar ou de alargar para que o nosso encontro com o Senhor não seja travado? O que é que temos de remover da nossa vida para que possamos avançar sempre ao encontro de Jesus? Quais são as montanhas e as colinas que temos de abaixar para ampliarmos os nossos horizontes e para podermos avançar nesse caminho por onde o Senhor vem ter connosco?
- É no deserto que João escuta a Palavra do Senhor. Não é por acaso. No deserto não há o ruído de fundo que nos distrai e nos afasta da verdade da existência; no deserto a Palavra de Deus não nos chega abafada pela gritaria ensurdecedora dos “fazedores de opinião”, nem distorcida pelos interesses económicos, políticos ou religiosos, nem manipulada pelas nossas intrigas e estratégias… No deserto a voz de Deus chega-nos de forma límpida e clara e confronta-nos com a coerência e a verdade da nossa vida. Seria bom se, ao longo deste “caminho de advento”, encontrássemos tempo e disponibilidade para fazer uma “experiência de deserto”. Trata-se de encontrar tempo de qualidade para estar com Deus e para dedicar a Deus; trata-se de, fazendo uma pausa nas preocupações, na agitação frenética da existência, no ruído de fundo que nos ensurdece e distrai, ficarmos a sós com Deus, conversarmos com Deus, escutarmos a Palavra de Deus, confrontarmos a nossa vida com as indicações de Deus. Queremos tentar a “aventura” de um encontro profundo com Deus?
- O facto de a Palavra de Deus ter passado ao lado das grandes figuras políticas e religiosas da época para se dirigir ao um homem pouco conhecido, que vive pobremente nas franjas do deserto de Judá, faz-nos pensar na estranha estratégia que Deus desenhou para vir ao nosso encontro, para nos revelar o seu rosto, para nos apresentar a sua proposta de salvação. Deus não escolhe a grandeza, o poder, a força, para nos impressionar com a sua majestade e para nos assustar com a sua autoridade; Deus revela-se na humildade, na simplicidade, na pequenez, na pobreza, em tudo aquilo que nos encanta e faz sorrir. Onde procuramos Deus? Sabemos vê-lo nos pobres, nas pessoas simples que amam e servem, naqueles que o mundo não escuta nem considera, naqueles que são invisíveis num mundo de ostentação e exibicionismo? Estamos conscientes de que, daqui a alguns dias, temos de reconhecer o rosto e a presença de Deus num bebé nascido numa gruta onde os pastores guardavam os seus rebanhos, porque não havia lugar para Ele nas casas confortáveis da cidade dos homens?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2.º DOMINGO DO ADVENTO
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 2.º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. GESTO PARA O INÍCIO DA CELEBRAÇÃO.
Para sublinhar o apelo à conversão, bem presente no Evangelho, pode-se escolher a aspersão como rito penitencial. O cântico de entrada poderá acompanhar também o rito de aspersão com água benzida, em sinal de conversão e penitência.
3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
“Deus de alegria, de justiça e de paz, bendito és Tu, porque nunca Te esqueces. Não esqueceste as tuas promessas, mas realizaste-as plenamente pela missão do teu Filho Jesus, que nos reúne na nova Jerusalém.
Nós Te pedimos: conduz as tuas comunidades na alegria, à luz da tua glória, dá-nos como segurança a tua misericórdia e a tua justiça”.
No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pela ação que começaste nas nossas comunidades e em cada um de nós, e que Tu continuas fielmente até ao dia de Cristo.
Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos guie, para que possamos caminhar sem vacilar até ao dia de Cristo, que Ele nos faça progredir no conhecimento da tua vontade”.
No final do Evangelho:
“Deus fiel, proclamamos a infinita paciência que puseste em ação ao longo dos séculos para preparar a vinda do teu Filho à nossa humanidade. Nós Te damos graças pelo envio dos profetas até João Baptista.
Nós Te pedimos por todas as nossas comunidades: aplanai os caminhos que nos ligam uns aos outros e nos abrem o caminho para Ti”.
4. BILHETE DE EVANGELHO.
No ano 15 do Reino de Tibério, o povo de Israel tinha sido bem posto à prova… Quantos caminhos de ocupação! Quantas ravinas de divisões! Quantas montanhas de incompreensões! João Baptista anuncia um futuro melhor, mas pede que se participe na sua realização: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas… e toda a criatura verá a salvação de Deus”. Assim, João Baptista revela o verdadeiro rosto de Deus que vem salvar a humanidade, mas quer ter necessidade desta humanidade para que ela coopere na sua salvação. E a conversão, que é apelo de Deus, é ao mesmo tempo apelo do homem. O profeta é o enviado de Deus, é o seu porta-voz. João Baptista, o último dos profetas da Antiga Aliança, é ao mesmo tempo o precursor do Salvador, prepara o caminho da sua vinda, convida os homens a preparar o seu coração para acolher Aquele que vem fazer novas todas as coisas, Aquele que vem mudar a paisagem do mundo e, sobretudo, o coração do homem.
5. À ESCUTA DA PALAVRA.
A enumeração é solene. Todos os grandes responsáveis estão em cena: o poder central, com o imperador Tibério e o seu prefeito Pôncio Pilatos; o poder local, com Herodes, Filipe e Lisânias; o poder religioso, com os sumo-sacerdotes Anás e Caifás. Em face deles, um homem seminu, sem qualquer poder humano. Um homem que será joguete do poder, João, filho de Zacarias. Três anos mais tarde, um outro homem, seminu, em face dos mesmos poderosos, as mãos trespassadas pelos pregos, Jesus, filho de Maria. Que resta dos poderosos de então? Nada, apenas ruínas, recordações dos seus nomes e, mesmo assim, não por causa deles, mas de João e de Jesus, que cruzaram os seus caminhos. Em face, João. Morto, ele também. Mas um dia, a Palavra de Deus foi-lhe dirigida no deserto: “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”. Esta voz ressoa nos nossos ouvidos, não já nos desertos de areia, mas no deserto dos nossos corações, muitas vezes demasiado desertos de esperança, de alegria, de amor. Há sempre entre os homens passagens tortuosas que tornam tão difícil a comunhão, montanhas demasiado altas que impedem de nos vermos, ravinas demasiado profundas que impedem a reconciliação e a paz. A voz de João ressoa ainda nos nossos ouvidos, para que a Palavra possa penetrar sempre nos nossos corações. João desapareceu, mas a Palavra, eterna, feita carne, está sempre presente, porque Jesus ressuscitou, está vivo para sempre. Sobre ele a morte não tem mais nenhum poder, nem qualquer outro poder, político, militar, económico e mesmo religioso! Esta Palavra é dada a nós, hoje. Quando deixamos a Palavra iluminar o nosso caminho e comemos o Pão da Vida – as duas mesas da liturgia eucarística – é Jesus vivo que vem endireitar os nossos caminhos, preencher as nossas ravinas interiores. Então, tornamo-nos porta-vozes da Palavra. Vendo-nos, os homens podem pressentir, pelo menos, a salvação de Deus.
6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística II. Exprime bem o tema do caminho, da marcha, presente nas leituras.
7. PALAVRAS PARA O CAMINHO…
Na primeira leitura, o profeta anuncia que Deus dará ao seu povo para sempre este nome: “Paz da justiça e glória da piedade”. Ao longo da próxima semana, procurar fazer a paz, construir a paz, fazer nascer a paz, no nosso coração e à nossa volta, procurar pronunciar muitas vezes palavras de paz e de esperança… Diz o salmista: “Da nossa boca brotavam expressões de alegria e de nossos lábios cânticos de júbilo”. Os nossos cânticos são pobres e vazios, se não transfigurarem a nossa vida no quotidiano…
Ajudemo-nos uns aos outros… “Discernir o mais importante” será mais fácil para alguns, em pequena equipa, que saberá partilhar na confiança. É uma maneira de nos ajudarmos uns aos outros a progredir espiritualmente, a prepararmo-nos para viver o Natal de outra maneira. Afinal, à maneira de Jesus!
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org