05º Domingo do Tempo Comum – Ano C [atualizado]

ANO C
5.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 Tema do 5.º Domingo do Tempo Comum

A liturgia deste domingo fala-nos de “vocação”. Lembra-nos que Deus conta connosco para concretizar o seu projeto de salvação para o mundo e para os homens. Desafia-nos a responder com generosidade ao chamamento de Deus.

A primeira leitura traz-nos a descrição plástica do chamamento de um profeta – Isaías. Enquanto dialoga com Deus, Isaías apercebe-se de que Deus tem planos para ele. Apesar de se sentir frágil e indigno, Isaías abraça o convite de Deus e responde, com toda a convicção: “eis-me aqui: podeis enviar-me”. A resposta de Isaías poderia muito bem ser o modelo da nossa resposta ao Deus que chama.

No Evangelho, Lucas oferece-nos uma imagem do “barco de Simão Pedro”, metáfora da comunidade cristã. Jesus está lá, sentado a ensinar todos aqueles que se dispõem a escutá-l’O. Os que viajam nesse barco devem orientar-se pela Palavra e pelas indicações de Jesus. O Mestre quer entregar-lhes uma missão: serem “pescadores de homens”. Eles são chamados a trabalhar com Jesus na libertação de todos os homens e mulheres afogados no sofrimento sem sentido.

Na segunda leitura, São Paulo fala-nos da ressurreição de Cristo, uma realidade que nos abre perspetivas novas e que nos permite encarar a vida com esperança. Recorda-nos que somos chamados – como o próprio Paulo foi – a acreditarmos e a sermos testemunhas da vida nova que brota de Jesus e da sua proposta.

 

LEITURA I – Isaías 6,1-2a.3-8

No ano em que morreu Ozias, rei de Judá,
vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime;
a fímbria do seu manto enchia o templo.
À sua volta estavam serafins de pé,
que tinham seis asas cada um
e clamavam alternadamente, dizendo:
«Santo, santo, santo é o Senhor do Universo.
A sua glória enche toda a terra!»
Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos
e o templo enchia-se de fumo.
Então exclamei:
«Ai de mim, que estou perdido,
porque sou um homem de lábios impuros,
moro no meio de um povo de lábios impuros
e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo».
Um dos serafins voou ao meu encontro,
tendo na mão um carvão ardente
que tirara do altar com uma tenaz.
Tocou-me com ele na boca e disse-me:
«Isto tocou os teus lábios:
desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa».
Ouvi então a voz do Senhor, que dizia:
«Quem enviarei? Quem irá por nós?»
Eu respondi:
«Eis-me aqui: podeis enviar-me».

 

CONTEXTO

O profeta Isaías (autor dos capts. 1-39 do Livro de Isaías) nasceu por volta do ano 760 a. C., no tempo do rei Ozias. De origem nobre, parece ter vivido em Jerusalém: demonstra uma cultura que dificilmente poderia ter conseguido fora do ambiente sofisticado da capital.

Isaías sentiu-se chamado por Deus à vocação profética quando tinha cerca de vinte anos (de acordo com Is 6,1, “no ano da morte do rei Ozias”, isto é, por volta de 740-739 a.C.). Sabemos também que casou e teve filhos.  Desconhecemos o nome da esposa, conhecida somente como “a profetiza” (Is 8,3). Quanto aos filhos, receberam nomes simbólicos: Sear Yasub (“um resto voltará” – Is 7,3) e Maher Salal Hash Baz (“toma despojos, apanha velozmente a presa” – Is 8,3). Neste pormenor, Isaías identifica-se com o profeta Oseias: toda a sua existência, inclusive no âmbito familiar, está ao serviço da mensagem que Deus lhe confia.

O carácter de Isaías pode conhecer-se suficientemente através da sua obra. É um homem decidido, sem falsa modéstia, que se oferece voluntariamente a Deus no momento do seu chamamento vocacional. Seguramente, faz parte dos notáveis do país: participa nas decisões relativas ao Reino, falando com autoridade aos altos funcionários (cf. Is 22,15) e mesmo aos reis (Is 7,10). É enérgico e nunca se deixa desanimar. É inimigo da anarquia (cf. Is 3,1-9); mas isso não significa que apoie as classes altas. Na verdade, os seus maiores ataques são dirigidos aos grupos dominantes: autoridades, juízes, latifundiários, políticos. É duro e irónico com as mulheres da classe alta de Jerusalém (cf. Is 3,16-24; 32,9-14). Defende com paixão os oprimidos, os órfãos, as viúvas (cf. Is 1,17), o povo explorado e desencaminhado pelos governantes (cf. Is 3,12-15).

Os últimos oráculos de Isaías são de 701 ou, talvez, de 689 a. C., alturas em que o rei assírio Senaquerib invadiu Judá e pôs cerco a Jerusalém. Isaías deve ter morrido poucos anos depois, embora não saibamos ao certo quando. Um apócrifo judeu do séc. I d. C. – “Ascensão de Isaías” – afirma que foi assassinado pelo rei ímpio Manassés.

O texto que a liturgia deste quinto domingo comum nos propõe como primeira leitura narra o momento em que Deus chama Isaías à vocação profética. O cenário é o templo de Jerusalém, construído por Salomão no séc. X a.C., o lugar onde Deus residia no meio do seu Povo e onde o Povo ia encontrar-se com Deus. No texto que nos é proposto, esse relato não está completo. Mas, de acordo com o relato original, essa experiência vocacional resume-se a quatro pontos: a consciência da santidade de Deus; a constatação de que a vida de Judá é marcada pelo pecado (pessoal e coletivo); o reconhecimento da necessidade de um castigo; e, no final de tudo, a afirmação da esperança na salvação de Deus. Estes quatro temas, unidos às tradições sobre Jerusalém e sobre a dinastia davídica, estarão sempre presentes na pregação do profeta Isaías.

 

MENSAGEM

O texto de Isaías 6,1-8 não deve ser visto como uma narração factual do momento em que Deus chamou o profeta para o seu serviço; mas deve ser considerado uma reflexão sobre esse mistério sempre pessoal e sempre íntimo que é a vocação. Isaías descreve a sua experiência do chamamento de Deus através de imagens que procuram traduzir o que ele sentiu intimamente quando percebeu que Deus contava com ele para a missão profética.

De acordo com o texto, Isaías estava no templo de Jerusalém quando “ouviu” o chamamento de Deus. Os elementos com que Isaías enfeita a sua descrição refletem a compreensão que o profeta tem da grandeza, da omnipotência, da santidade e da transcendência de Deus: Deus está sentado num trono elevado, como rei que governa o mundo e preside à história dos homens; é tal a grandeza de Deus, que a simples fímbria do seu manto enche todo o espaço sagrado do templo (vers. 1); à volta de Deus, fazendo parte da sua corte, estão os anjos (os “serafins”) que aclamam a sua santidade, a sua realeza universal, a sua glória (vers. 2-3). O “fumo” que enche o templo e o tremor que agita os gonzos das portas quando se ouve a voz de Deus, são elementos usados pelos autores véterotestamentários para “compor” o cenário das manifestações de Deus (cf. Ex 19, 16-18; 1Rs 8,10; Sl 104,32). Foi esse Deus santo, majestoso, Senhor do mundo e da história que, por desígnios insondáveis e que são incompreensíveis para o homem, escolheu e chamou Isaías para a missão profética.

Diante da grandeza e da santidade de Deus, Isaías sente-se pequeno, frágil e, sobretudo, indigno. Como poderá ele, homem frágil e pecador, que vive no meio de um povo de lábios impuros, estar diante de Deus e testemunhar a majestade infinita de Deus? (vers. 5). Mas Deus tem uma missão para confiar a Isaías; a fragilidade e a indignidade daquele homem que Deus quer para o seu serviço não são obstáculo para o Deus que tudo pode. Portanto, Deus capacita Isaías para a missão que lhe vai entregar: um dos anjos que estava junto de Deus vem ao encontro de Isaías trazendo um carvão ardente tirado do altar; toca-lhe com ele os lábios, purificando-o e tornando-o apto para ser profeta de Deus (vers. 6-7). Com os lábios purificados, Isaías já pode ser palavra viva de Deus que ecoa no mundo dos homens. O profeta pode, agora, aceitar a missão. Apesar dos seus limites bem humanos, ele tem a autoridade de Deus para fazer ouvir no mundo a Palavra de Deus.

Depois disto, só resta ao profeta aceitar a missão. Rendido a esse Deus santo e poderoso que o chama, Isaías responde: “eis-me aqui: podeis enviar-me” (vers. 8). Entrega-se nas mãos de Deus e põe-se incondicionalmente ao serviço desse Deus que o chama.

Embora a vocação seja sempre uma experiência única e pessoal, nunca divergirá essencialmente dos traços aqui definidos: o “caminho vocacional” percorrido por Isaías é o mesmo caminho que qualquer pessoa chamada por Deus tem de percorrer.

 

INTERPELAÇÕES

  • Deus, para concretizar o seu plano de salvação, conta com todos os seus filhos e filhas. Cada um de nós tem o seu lugar e o seu papel no projeto que Ele tem para o mundo e para os homens. É Deus que, de acordo com critérios que só Ele conhece e define, escolhe quem quer, chama quem quer e envia quem quer. A nossa “história de vocação” é a história de como Deus vem ao nosso encontro, entra na nossa vida, desafia-nos para a missão, pede uma resposta à proposta que nos faz. Temos consciência de que Deus nos chama, às vezes de formas bem banais, para o seu serviço? Estamos atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e através dos quais nos diz, a cada momento, o que quer de nós? Estamos disponíveis para responder com generosidade aos desafios que Deus nos lança, mesmo quando eles vão contra os nossos projetos pessoais ou contra os nossos interesses particulares?
  • O “chamamento” de Isaías acontece quando ele está no templo de Jerusalém, presumivelmente em oração. Os grandes “vocacionados” que a Bíblia nos apresenta são sempre pessoas que cultivam a intimidade com Deus e que buscam o diálogo com Deus. É nesse diálogo que se apercebem do projeto de Deus e do papel que Deus lhes reserva nesse projeto; é nesse diálogo que aprendem a escutar Deus e as propostas que Ele faz; é nesse diálogo que apresentam a Deus as suas inquietações, dúvidas e incertezas e descobrem as respostas e “soluções” de Deus para as questões que a vida traz… Os que “conversam” com Deus saem dessas “conversas” mais enamorados de Deus, mais conscientes do que Deus quer, mais preparados para aceitar a vontade de Deus e para lhe dizer “sim”. Procuramos aproximar-nos de Deus e cultivar a intimidade com Ele? No meio da agitação e das preocupações que enchem a nossa vida de todos os dias, arranjamos tempo para escutar Deus, para falar com Ele, para discernir os seus caminhos?
  • Isaías é um homem plenamente consciente dos seus limites, da sua debilidade e da sua indignidade. Descobre, no entanto, que Deus quer contar com ele, apesar de tudo isso. Deus, desde sempre, escolheu instrumentos frágeis e “improváveis” para intervir no mundo e para oferecer aos seus filhos a sua proposta de salvação. Aliás, é na fraqueza e na fragilidade que se manifestam a grandeza, a força e a santidade de Deus. Se Deus nos pede um serviço, dar-nos-á também a força para superarmos os nossos limites e para fazermos o que Ele nos pede. A consciência da nossa pequenez e fragilidade alguma vez nos impediu de aceitarmos a missão que Deus tinha para nós? Mais: alguma vez usamos o pretexto da nossa indignidade para permanecermos comodamente à margem das tarefas que Deus queria confiar-nos?
  • No relato da vocação de Isaías impressiona o facto de ele, ainda antes de saber em concreto a missão que Deus lhe ia confiar, se ter disponibilizado sem condições: “eis-me aqui, podeis enviar-me!”. A resposta que Isaías dá a Deus é a resposta de quem está disposto a arriscar tudo, a oferecer toda a sua vida para o serviço de Deus; é a resposta de quem dá tudo a Deus, sem cálculos nem condições; é a resposta de alguém para quem Deus é o centro e a prioridade máxima. É desta forma – total, absoluta, incondicional, “limpa” – que nós nos damos a Deus e nos disponibilizamos para o serviço de Deus?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 137 (138)

Refrão:  Na presença dos Anjos, eu Vos louvarei, Senhor.

De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças,
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos Vos hei de cantar
e Vos adorarei, voltado para o vosso templo santo.

Hei de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma.

Todos os reis da terra Vos hão de louvar, Senhor,
quando ouvirem as palavras da vossa boca.
Celebrarão os caminhos do Senhor,
porque é grande a glória do Senhor.

A vossa mão direita me salvará,
o Senhor completará o que em meu auxílio começou.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos.

 

LEITURA II – 1 Coríntios 15,1-11

Recordo-vos, irmãos, o Evangelho
que vos anunciei e que recebestes,
no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos,
se o conservais como eu vo-lo anunciei;
aliás teríeis abraçado a fé em vão.
Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi:
Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras;
foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras,
e apareceu a Pedro e depois aos Doze.
Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez,
dos quais a maior parte ainda vive,
enquanto alguns já faleceram.
Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos.
Em último lugar, apareceu-me também a mim,
como o abortivo.
Porque eu sou o menor dos Apóstolos
e não sou digno de ser chamado Apóstolo,
por ter perseguido a Igreja de Deus.
Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou
e a graça que Ele me deu não foi inútil.
Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles,
não eu, mas a graça de Deus, que está comigo.
Por conseguinte, tanto eu como eles,
é assim que pregamos;
e foi assim que vós acreditastes.

 

CONTEXTO

Corinto, cidade cosmopolita situada na região do Peloponeso, era, no séc. I, um dos grandes expoentes da cultura grega. Paulo passou lá durante a sua segunda viagem missionária; do seu anúncio nasceu uma comunidade cristã viva e interessada, mas que mergulhava as suas raízes no terreno inquinado de uma cultura que estava distante da proposta cristã. Os valores culturais gregos – que os coríntios cultivavam com orgulho – vão constituir um contraponto aos valores do Evangelho que Paulo anunciava. O choque entre essas duas realidades está particularmente evidente em algumas das temáticas que Paulo julgou útil tratar na primeira carta aos coríntios, escrita em Éfeso durante a terceira viagem missionária do apóstolo.

Uma das questões que trazia algumas dificuldades aos cristãos de Corinto era a questão da ressurreição. A ressurreição dos mortos era relativamente bem aceite no judaísmo em geral (embora os saduceus, um grupo elitista constituído fundamentalmente por membros das famílias sacerdotais, não partilhassem dessa crença), habituado a ver o ser humano na sua unidade; mas constituía um problema sério para a mentalidade grega. A cultura grega, fortemente influenciada por filosofias dualistas (como a filosofia de Platão, por esta altura muito em voga) que viam no corpo uma realidade negativa e na alma uma realidade ideal e nobre, recusava-se a aceitar a ressurreição do homem integral. Como poderia o corpo – essa realidade material, carnal, sensual, que aprisionava a alma e a impedia de subir ao mundo ideal, ao mundo luminoso dos espíritos – seguir a alma?

Portanto, alguns cristãos de Corinto diziam que “não há ressurreição dos mortos” (1Cor 15,12). Outros faziam perguntas (“como ressuscitam os mortos?”; “com que corpo os mortos regressam à vida?”) que Paulo considera “insensatas” (cf. 1Cor 15,35). O apóstolo decide abordar esta questão para esclarecer uns e outros e ajudar todos os membros da comunidade a purificar a sua fé.

 

MENSAGEM

Propõe-se recordar aos cristãos de Corinto a “Boa Notícia” que lhes anunciou e que eles acolheram com fé. É por esse “evangelho” que os coríntios serão salvos (cf. 1Cor 15,1-2). Essa “Boa Notícia” não foi algo que Paulo inventou; foi algo que o próprio Paulo recebeu (“o que eu mesmo recebi”) e que passou aos seus filhos de Corinto (“transmiti-vos”). Os dois verbos aqui usados por Paulo (“receber” e “transmitir”) são utilizados no rabinismo para descrever o processo de transmissão da fé.

Ora, no centro da fé dos cristãos, está a ressurreição de Cristo: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (vers. 3-4). A expressão poderá ser uma primitiva confissão de fé utilizada na pregação cristã dos primeiros tempos. A que textos das Escrituras se refere Paulo? Talvez ele tenha em mente Is 53,8-12 (o quarto poema do Servo de Javé) e Os 6,2; mas o mais certo é que esteja a falar de forma geral, a partir de acontecimentos salvíficos previstos em numerosas passagens véterotestamentárias, e em particular nos textos proféticos. Em qualquer caso, Paulo considera que a ressurreição de Cristo está em consonância com a Escritura sagrada.

Como comprovativo da ressurreição de Jesus, Paulo cita seis aparições do Ressuscitado: Ele apareceu “a Pedro e depois aos Doze; em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram; posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos”; em último lugar, apareceu ao próprio Paulo, embora ele se considere o mais indigno de todos os apóstolos (vers. 5-9). Na verdade, nenhuma das pessoas que Paulo refere testemunhou o momento exato em que Jesus saiu vivo do sepulcro. O que elas atestaram é que Jesus, depois de morrer na cruz, lhes apareceu cheio de vida; e elas tornaram-se testemunhas de que a morte não tinha derrotado Jesus. Foi precisamente essa “Boa Notícia” que Paulo transmitiu aos cristãos de Corinto e que eles acolheram pela fé.

A ressurreição de Jesus poderá ser catalogada na categoria dos factos históricos? Não. É um facto real, mas não um facto histórico. É um facto sobrenatural e meta-histórico que ultrapassa completamente as categorias humanas do espaço e do tempo e entre na dimensão da fé. A experiência que aqueles que se encontraram com Jesus vivo fizeram foi uma experiência de fé. No entanto, foi uma experiência verdadeira e convincente.  A prová-lo está na espantosa transformação que todos eles sofreram depois de se encontrarem com o Ressuscitado: de homens cheios de medo, de frustração e de cobardia, converteram-se em arautos destemidos de Jesus, vivo e ressuscitado.

Os cristãos de Corinto poderão, também eles, fazer uma experiência de encontro com Cristo ressuscitado. Deverão, para chegar a fazer essa experiência, escutar as Escrituras, deixar-se iluminar pelo Espírito, acolher a tradição da Igreja. Acabarão, ao longo do caminho, por se encontrar com Jesus, vivo e ressuscitado, e por se deixar transformar por Ele.

 

INTERPELAÇÕES

  • Para nós, cristãos, a ressurreição de Jesus não é apenas uma verdade que professamos quando dizemos o credo, mas é uma certeza que ilumina a nossa vida e imprime um sentido novo à história dos nossos dias. Nós, discípulos de Jesus, não vivemos da memória de um “morto” que a história conheceu, digeriu e arrumou na galeria das figuras notáveis cobertas pelo pó dos tempos, mas caminhamos atrás de alguém que está vivo, que continua a encontrar-se connosco, a caminhar ao nosso lado, a alimentar-nos com a sua Palavra e com o seu Pão, a apontar-nos o caminho que conduz à vida. Como é que sentimos a ressurreição de Jesus? Experimentamos a presença de Jesus, sentimos que o seu Espírito nos anima e conduz enquanto viajamos pela vida? O facto de Jesus ter vencido a morte muda a nossa perspetiva da vida?
  • A vitória de Jesus sobre a morte, a injustiça, a mentira, a maldade, traz à nossa vida um suplemento de coragem e de esperança. Garante-nos que não há morte para quem aceita fazer da sua vida uma luta pela justiça, pela verdade, pelo projeto de Deus. Fornece-nos as armas de que precisamos para vencer o medo e fortalece-nos na decisão de lutar pela instauração do Reino de Deus. Foi isso que os apóstolos perceberam quando se encontraram com Jesus ressuscitado. A certeza da ressurreição encoraja-nos a lutar, sem a paralisia que vem do medo, por um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano?
  • Paulo acredita que os seguidores de Jesus podem descobri-lo, vivo e ressuscitado, a partir da escuta da Palavra de Deus e do testemunho da comunidade cristã. Quando nos reunimos à volta da mesa da eucaristia, no “dia do Senhor”, com outros nossos irmãos na fé, sentimos que Jesus está vivo no meio de nós? A eucaristia é, para nós, um momento privilegiado de encontro com Jesus ressuscitado?

 

ALELUIA – Mateus 4,19

Aleluia. Aleluia.

Vinde comigo, diz o Senhor,
e farei de vós pescadores de homens.

 

EVANGELHO – Lucas 5,1-11

Naquele tempo,
estava a multidão aglomerada em volta de Jesus,
para ouvir a palavra de Deus.
Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré
e viu dois barcos estacionados no lago.
Os pescadores tinham deixado os barcos
e estavam a lavar as redes.
Jesus subiu para um barco, que era de Simão,
e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra.
Depois sentou-Se
e do barco pôs-Se a ensinar a multidão.
Quando acabou de falar, disse a Simão:
«Faz-te ao largo
e lançai as redes para a pesca».
Respondeu-Lhe Simão:
«Mestre, andámos na faina toda a noite
e não apanhámos nada.
Mas, já que o dizes, lançarei as redes».
Eles assim fizeram
e apanharam tão grande quantidade de peixes
que as redes começavam a romper-se.
Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco
para os virem ajudar;
eles vieram e encheram ambos os barcos
de tal modo que quase se afundavam.
Ao ver o sucedido,
Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe:
«Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador».
Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele
e de todos os seus companheiros,
por causa da pesca realizada.
Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu,
que eram companheiros de Simão.
Jesus disse a Simão:
«Não temas.
Daqui em diante serás pescador de homens».
Tendo conduzido os barcos para terra,
eles deixaram tudo e seguiram Jesus.

 

CONTEXTO

No início do Evangelho que a liturgia hoje nos apresenta, Jesus encontra-se nas margens do Mar da Galileia, rodeado por uma grande multidão que viera “para escutar a palavra de Deus” (Lc 5,1). Esse “mar” – também chamado “lago de Tiberíades” ou “lago de Kineret” – é um lago com cerca de 11 quilómetros de largura e 21 quilómetros de comprimento máximo. Era um lago de água doce, rico em peixe. Muitos dos que habitavam nas suas margens viviam da pesca. O rio Jordão era a principal fonte de alimentação desse lago.

Nas margens do Mar da Galileia situavam-se diversas cidades, como Tiberíades ou Cafarnaum. Cafarnaum era a cidade onde Pedro e o seu irmão André residiam. Era uma cidade estratégica, pois estava ao lado da “Via Maris” (“estrada do Mar”), uma importante via de comunicação que ligava o Egito à Síria e ao Líbano e que passava por Cesareia Marítima (o local onde residia habitualmente o prefeito romano da Judeia). Jesus, depois de ter estado algum tempo com João Batista no deserto de Judá, estabelecera-se em Cafarnaum.

De acordo com o esquema teológico de Lucas, Jesus tinha começado há pouco o seu ministério na Galileia (cf. Lc 4,14-15). Na sinagoga de Nazaré apresentara o seu “programa”: anunciar a “Boa Notícia” aos pobres, libertar os cativos, iluminar os caminhos de quem vivia na escuridão, proclamar a chegada de um tempo novo de graça e de paz (cf. Lc 4,16-21); e logo depois, na sinagoga de Cafarnaum deixara toda a gente maravilhada com o seu ensino e os seus gestos poderosos (cf. Lc 4,31-37).

Até agora, Jesus tinha estado sozinho na tarefa de anunciar o Reino de Deus. Na secção que começa neste capítulo e que vai até 6,16, Jesus começa a rodear-se de discípulos. Algumas pessoas respondem ao seu anúncio e aceitam colaborar com Jesus na missão que o Pai lhe confiou.

 

MENSAGEM

Jesus está na margem do lago. A sua atuação na sinagoga de Cafarnaum, no sábado anterior (cf. Lc 4,31-37), tinha atraído sobre Ele a atenção das gentes da cidade. Rodeiam-no muitas pessoas que estão curiosas em relação àquele profeta itinerante e à mensagem nova que Ele traz. Intuem vagamente que aquele homem vem de Deus e traz uma mensagem de Deus. Ali perto estão alguns pescadores a limpar as redes, depois de uma noite de pesca que não teve qualquer resultado.

Em pé junto da linha de água, rodeado por pessoas, Jesus apenas é escutado por alguns que estão mesmo ao lado d’Ele (vers. 1). Sobe então para um dos barcos, o de Simão Pedro, um pescador que Jesus conhece bem (cf. Lc 4,38-41) e pede-lhe que afaste um pouco o barco da margem. Senta-se no barco e começa a falar às pessoas que o escutam da margem (vers. 3). Agora está na posição de um rabi que, sentado na sua cátedra, instrui os seus discípulos; mas a sua cátedra é um humilde barco de pescadores.

Quando Jesus acaba de falar, a multidão afasta-se lentamente. Jesus, ainda no barco, dirige-se agora a Simão Pedro e convida-o a lançar as redes (vers. 4). Do ensino, Jesus passa à ação, à pesca. Precisa da colaboração daqueles pescadores que estão com Ele no barco. Simão, contudo, coloca objeções bem lógicas à pretensão de Jesus: ele e os companheiros estão cansados depois de uma noite de trabalho; a manhã não é a melhor altura do dia para pescar; ali não há peixe, pois passaram toda a noite a tentar e não apanharam nada (vers. 5). Que pode um carpinteiro saber sobre pesca que aqueles “profissionais” não saibam? Vale a pena seguir as indicações de Jesus?

Apesar de tudo, Simão decide acolher a sugestão de Jesus. Interna-se no lago e, com a colaboração de outros – possivelmente também de seu irmão André – lança as redes. Confia nas palavras de Jesus. Essa confiança é recompensada: as redes enchem-se de tal quantidade de peixes que ameaçam romper-se (vers. 6). Simão faz sinal a alguns companheiros de pesca que estavam noutro barco (à frente dir-se-á que se tratava de Tiago e João, filhos de Zebedeu) para que viessem ajudá-lo. Os dois barcos encheram-se de tal maneira que quase se afundavam (vers. 7).

Simão estava melhor preparado do que os outros para entender Jesus. Já o conhecia e já o tinha acolhido na sua casa. Reagiu lançando-se aos pés de Jesus – um gesto de humildade – e reconhecendo-O como “Senhor” (“Kyrie” – vers. 8)). No texto grego do Antigo Testamento, a palavra designa o próprio Deus. Pedro sente-se pequeno e indigno diante de Jesus, como acontece com todos aqueles que são testemunhas da manifestação de Deus. Para Jesus, no entanto, a indignidade de Pedro não é obstáculo. Os outros pescadores envolvidos na pesca comungam do mesmo espanto e admiração que Simão sente em relação a Jesus (vers. 9-10).

O episódio conclui-se com Jesus a anunciar a Simão qual vai ser a sua vocação futura: “pescador de homens” (vers. 10). Lucas não explica o que é que Jesus quer dizer ao usar essa expressão.

Depois deste encontro e desta pesca, Simão e os seus companheiros de pesca “deixaram tudo e seguiram Jesus” (vers. 11).

A narração lucana é uma história sobre uma pesca milagrosa no Mar da Galileia, no final da manhã de um dia não identificado, pouco depois de Jesus ter começado o seu ministério profético? É muito mais do que isso: é uma catequese sobre o projeto de Jesus e a nossa envolvência nesse projeto.

O barco de Simão Pedro é uma metáfora da Igreja, comunidade cristã. É nela que Jesus entra e se senta; e é dela que Ele dirige a sua Palavra ao mundo (“pôs-Se a ensinar, da barca, a multidão”). Os que estão “na margem” e que estão interessados na proposta de Jesus voltam-se para o “barco de Pedro” e escutam com toda a atenção a palavra libertadora que Jesus lhes oferece.

Os que estão no “barco de Pedro” são aqueles que já optaram por Jesus. Podem ser gente que trabalha muito; mas o seu esforço é inglório se Jesus não estiver com eles. O seu trabalho só dá fruto quando eles seguem as orientações de Jesus. Às vezes, as propostas de Jesus podem parecer ilógicas, incoerentes, ridículas (e quantas vezes o parecem, face aos esquemas e valores do mundo…); mas é preciso confiar incondicionalmente em Jesus, entregar-se nas mãos d’Ele e cumprir à risca as suas indicações (“porque Tu o dizes, lançarei as redes”). Então sim, a “pesca” é abundante.

Os que viajam no barco com Jesus conhecem-n’O bem. Sabem que Ele veio de Deus e que a sua proposta gera vida e fecundidade para todos. Por isso, como Simão Pedro, reconhecem Jesus como “o Senhor” (em grego, “kyrios”), que é o título que a comunidade cristã primitiva dava a Jesus ressuscitado, aquele que preside ao mundo e à história. Naturalmente, sentem-se pequenos e indignos diante do “Senhor”; mas são pessoas “normais” – isto é, frágeis, pecadoras, cheias de defeitos e qualidades – que Jesus convida para irem com Ele no “barco”.

Aqueles que acolhem a proposta de Jesus e que escutam as suas indicações, são chamados a serem “pescadores de homens”. Para entendermos esta expressão, temos de recordar o que significava o “mar” no ideário judaico: era o lugar onde residiam os espíritos e as forças demoníacas que roubavam a vida e a felicidade do homem. Ser “pescador de homens” é continuar a obra libertadora de Jesus, procurando libertar o homem de tudo aquilo que o impede de ter vida. Trata-se de salvar o homem de morrer afogado no mar da opressão, do egoísmo, da maldade. Trata-se, afinal, da mesma missão de Jesus: “anunciar a boa nova aos pobres”, “proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos”, “restituir a liberdade aos oprimidos”, “proclamar o ano da graça do Senhor” – Lc 4,18-19).

Os que se dispõem a trabalhar com Jesus devem deixar tudo – todas as seguranças, todos os confortos, todas as certezas, todas as cadeias que os prendem – para irem atrás de Jesus. Esta alusão ao desprendimento total do discípulo é típica de Lucas (cf. Lc 5,28;12,33;18,22): sugere que a generosidade e o dom total devem ser sinais distintivos das comunidades e dos crentes que seguem Jesus.

Uma palavra final para o papel proeminente que Simão Pedro assume nesta catequese: a comunidade lucana é uma comunidade estruturada, que reconhece em Pedro o “porta-voz” de todos e o principal animador dessa comunidade de Jesus que navega nos mares da história.

 

INTERPELAÇÕES

  • O “barco de Simão Pedro”, de onde Jesus proclama a Boa Notícia do Reino de Deus, é uma bela e sugestiva imagem da comunidade cristã. Muitos homens e mulheres que estão “na margem” da vida e da história, olham para o “barco de Simão Pedro” e aguardam ansiosamente as palavras de Jesus. Não veem outra saída, não vislumbram outra esperança. A comunidade cristã é, neste agitado séc. XXI, o espaço privilegiado onde a voz de Jesus ecoa no mundo para consolar, para animar, para curar, para apontar caminhos, para dar vida? No meio do rugido das tempestades que o mundo enfrenta, fazemos tudo o que podemos para tornar percetível, para os nossos irmãos e irmãs que esperam “nas margens”, a voz de Jesus? As palavras que dizemos aos homens e mulheres que anseiam por uma vida mais humana, são as palavras de Jesus? O “barco de Simão Pedro” em que viajamos com Jesus está pintado com as cores da misericórdia, da solicitude, da compreensão, do acolhimento, do perdão, da bondade, da ternura de Deus? O “barco de Simão Pedro” cumpre o seu papel de levar a todos os homens e mulheres o testemunho de Jesus?
  • Olhemos agora para o interior do “barco de Simão Pedro”, onde viajamos nós, os que fazemos parte da comunidade de Jesus… O que andamos a fazer? Como trabalhamos? O nosso trabalho está a dar resultado? Quando desenhamos os nossos projetos pastorais e elaboramos os nossos organogramas paroquiais, temos em conta as orientações que Jesus nos oferece, ou fazemos as coisas de acordo com os nossos critérios pessoais e as nossas visões estreitas? Acolhemos as propostas de Jesus, mesmo quando elas nos parecem ilógicas, irracionais, pouco modernas, à luz da nossa compreensão das coisas ou dos valores rasteiros dos fazedores de opinião que ditam a moda? Gastamos mais tempo nas nossas reuniões de programação e nas nossas discussões estéreis, ou a escutar o Evangelho que Jesus nos propõe? Confiamos plenamente em Jesus e na sua Palavra?
  • Simão Pedro, depois de ver o extraordinário resultado da “pesca”, lançou-se aos pés de Jesus e chamou-lhe “Kyrios”, “Senhor”. Reconheceu em Jesus aquele que pode tudo, aquele que é capaz de dar sentido a tudo o que fazemos e vivemos. O “credo” de Simão Pedro mostra que ele decidiu confiar plenamente em Jesus e entregar toda a sua vida nas mãos de Jesus. Jesus tornou-se a sua referência, o seu “Senhor”, o centro à volta do qual Simão Pedro decidiu construir toda a sua existência, aquele em quem Simão Pedro decidiu apostar todas as fichas que tinha para jogar… Para nós, Jesus também é o “Kyrios”? Reconhecemos, de facto, que Jesus é o “Senhor” que preside à nossa história e à nossa vida? Ele é o centro à volta do qual articulamos a nossa existência e os nossos passos, ou deixamos que outros “senhores” nos manipulem e controlem?
  • Jesus convida Simão Pedro a tornar-se “pescador de homens”. O convite, no entanto, não será apenas para Simão Pedro; deve estender-se a todos aqueles que vão naquele barco. Simão Pedro e os seus companheiros têm como missão salvar todos os homens e mulheres que vivem mergulhados no desespero, no medo, na opressão, na morte. A missão a que Simão Pedro e os seus companheiros são chamados é a mesma de Jesus: curar as feridas, libertar das cadeias, iluminar o caminho dos que vivem nas trevas, levar vida e esperança a todos os homens e mulheres. Temos consciência de que esta é a nossa missão? Como a vivemos? Os homens e mulheres com quem nos cruzamos a cada instante descobrem, nas nossas palavras e nos nossos gestos, essa vida nova que Jesus veio oferecer a todos? Os homens e mulheres que a sociedade atira para “as margens” e abandona à sua sorte, os que vivem afogados na solidão, os que ninguém quer e ninguém ama, as vítimas de todas as guerras e de todas as opressões, encontram em nós o gesto fraterno que os tira do fundo do mar e que lhes devolve a esperança?
  • Aqueles pescadores do Mar da Galileia, depois de terem levado “os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus”. De repente, tudo aquilo em que tinham construído até ali tornou-se irrelevante diante de um projeto muito mais aliciante: colaborar com Jesus na libertação do mundo e dos homens. Deixaram tudo; passaram a viver para o Reino de Deus e foram atrás de Jesus. O seguimento de Jesus passou a ser a verdade fundamental das suas vidas. Como é o nosso seguimento de Jesus? A nossa entrega ao projeto de Jesus é total, ou parcial e calculada? Deixamos tudo na praia para seguir Jesus, porque o seu projeto se tornou a prioridade da nossa vida?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 5.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. DA PALAVRA À EUCARISTIA.

As palavras do nosso Sanctus vêm da primeira leitura deste domingo. Se o Sanctus programado para este dia tiver um refrão, este último poderá ser utilizado como antífona do salmo responsorial. Será um modo simples de valorizar a ligação entre as duas mesas, a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia.

3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

 

No final da primeira leitura:

“Deus Altíssimo, Rei e Senhor do universo, juntamo-nos à imensa multidão celeste das tuas criaturas espirituais para Te aclamar: Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo. Toda a terra está cheia da tua glória!

Pai, que desejas tanto estar próximo de nós e de Te fazer conhecer, nós Te pedimos: envia os teus mensageiros, que o teu Nome seja santificado em toda a terra.”

 

No final da segunda leitura:

“Pai, nos Te damos graças pela Boa Nova de Jesus ressuscitado, Ele que foi manifestado aos Apóstolos e revelado a todos aqueles que Te procuram com fé. Bendito sejas pelo testemunho apostólico transmitido de geração em geração.

Jesus, Filho do Deus vivo, salva-nos pela tua ressurreição, acolhe todos os nossos irmãos e irmãs defuntos na tua comunhão, na luz da tua Páscoa eterna”.

 

No final do Evangelho:

“Jesus, Mestre e Senhor, bendito sejas pelos apelos que nos diriges em cada dia, convidando-nos a seguir-Te.

Mestre, nós Te confiamos os nossos desencorajamentos, porque também nós sofremos para avançar ao largo, no teu caminho. Mas na tua Palavra e com o sopro do Espírito, retomaremos o caminho”.

4. BILHETE DE EVANGELHO.

Estes pescadores tinham, sem dúvida, ouvido falar de Jesus. O seu ensinamento parecia ter autoridade, mas não era um homem do Lago. Não era Ele que ia dar lições a estes três pescadores experimentados. Então, que se passou? Ele devia inspirar confiança, para que Simão lhe emprestasse a sua barca, fazendo dela lugar de pregação e, mais ainda, para que este mesmo Simão obedecesse à sua ordem, uma ordem insensata: lançar novamente as redes, quando a pesca tinha sido infrutífera toda a noite. Diante da prodigalidade da pesca, Simão lança-se aos pés daquele que reconhece como mestre, enquanto ele mesmo se reconhece como homem pecador. Jesus faz um segundo sinal, um segundo milagre: vai fazer de Pedro um outro homem. De pescador de peixes torna-se pescador de homens, torna-se um homem cheio de confiança. Deixando tudo, como Tiago e João, segue Jesus!

5. À ESCUTA DA PALAVRA.

Pedro era um pescador profissional. Conhecia o seu ofício. Aquele dia era um dia “não”, um dia de pesca infrutífera. E chega Jesus, carpinteiro, a dizer-lhe o que fazer, para lançar as redes. A primeira atitude de Simão é, naturalmente, de hesitação. Apesar de tudo, manifesta uma atitude de confiança, ao lançar as redes. A palavra e a personalidade de Jesus inspiraram-lhe alguma confiança. Segundo Lucas, Pedro já tinha tido ocasião para experimentar a presença de Jesus junto da sua sogra, doente com febre. A pesca é verdadeiramente milagrosa. Humanamente, não seria possível! Pedro e os companheiros admitem que este jovem rabino tem poderes sobre-humanos. Pelo menos, é um profeta, um enviado de Deus. Mas para Pedro ficam interrogações: a presença de Deus não acontece no Templo, em Jerusalém, onde são necessários ritos de purificação para se aproximar d’Ele? Daí o grito de Pedro: “afasta-Te de mim, que sou um homem pecador!” Em Jesus, Deus sai do Templo, de todos os templos. Vem caminhar na estrada dos homens. Vem ao encontro dos homens, os mais pequenos, os pescadores e pecadores, independentemente de qualquer purificação. Será isso o mundo ao contrário? Certamente! Jesus vem colocar o mundo face a Deus, numa relação de amor que suprime todas as barreiras e que suscita infinita confiança. Isso continua a ser verdade hoje!

6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se escolher a Oração Eucarística I, que recorda o nome dos apóstolos de que fala o Evangelho e na Carta de Paulo. As palavras “na presença da tua glória sobre o teu altar celeste” evocam, de certo modo, o clima da primeira leitura.

7. PALAVRA PARA O CAMINHO…

As últimas palavras do sacerdote na missa são palavras de paz: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!” Eis-nos enviados entre os homens, nossos irmãos, como Isaías, como Simão, como Paulo… E, como eles, não nos sentimos dignos de cumprir a missão que Deus nos confia em cada Eucaristia. Mas, como a Isaías, a Simão, a Paulo, uma palavra forte é dita a cada um de nós: “Não tenhas medo…” Partamos, como Paulo… com a certeza de que não sou eu que trabalho sozinho, “é a graça de Deus, que está comigo!”

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org