ANO C
6.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 6.º Domingo do Tempo Comum
A Palavra de Deus que nos é proposta neste sexto domingo comum fala-nos de opções, de escolhas acertadas para construir uma vida com sentido. De um lado está o caminho que Deus propõe; do outro está o caminho que nos é apontado pela lógica dos homens. O caminho que Deus aponta parece um caminho “improvável” e obriga-nos frequentemente a navegar contra a corrente; mas é, garantidamente, o caminho que nos leva à vida verdadeira.
Na primeira leitura o profeta Jeremias garante que, se apostarmos tudo em realidades humanas e efémeras estaremos a desperdiçar a nossa existência; mas se colocarmos a nossa esperança em Deus e aceitarmos viver de acordo com as indicações de Deus, encontraremos vida em abundância e felicidade sem fim.
No Evangelho Jesus mostra aos discípulos e à multidão como chegar à felicidade verdadeira. O caminho que Ele aponta – o das “bem-aventuranças” – contradiz absolutamente a lógica humana e inverte completamente a nossa escala de valores; mas apresenta-se com o selo de garantia do próprio Deus. De acordo com Jesus, é o caminho para um mundo mais humano, mais fraterno e mais feliz.
Na segunda leitura Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Corinto – e aos crentes de todos os lugares e tempos – convida-os a acreditar na ressurreição e a viver de olhos postos no mundo que há de vir. Se esse for o nosso horizonte, saberemos que as coisas deste mundo são passageiras e não devem ser a prioridade da nossa vida.
LEITURA I – Jeremias 17, 5-8
Eis o que diz o Senhor:
«Maldito quem confia no homem
e põe na carne toda a sua esperança,
afastando o seu coração do Senhor.
Será como o cardo na estepe
que nem percebe quando chega a felicidade:
habitará na aridez do deserto,
terra salobre, onde ninguém habita.
Bendito quem confia no Senhor
e põe no Senhor a sua esperança.
É como a árvore plantada à beira da água,
que estende as suas raízes para a corrente:
nada tem a temer quando vem o calor
e a sua folhagem mantém-se sempre verde;
em ano de estiagem não se inquieta
e não deixa de produzir os seus frutos».
CONTEXTO
Jeremias nasceu em Anatot, uma pequena cidade levítica situada nas proximidades de Jerusalém, por volta de 650 a.C.; e exerceu a sua missão profética desde 627/626 a.C., até depois da destruição de Jerusalém pelos Babilónios (586 a.C.).
A época de Jeremias é uma época de grande instabilidade política e social. Quando Jeremias assumiu a missão profética, o rei Josias estava a concretizar uma grande reforma religiosa destinada a banir do país os cultos aos deuses estrangeiros, depois de décadas de infidelidade a Deus e de sincretismo religioso. Jeremias, nessa fase, envolveu-se na reforma religiosa de Josias, exortando os habitantes de Judá a converterem-se e a serem fiéis a Javé.
Contudo, em 609 a.C. Josias foi morto em Megido, em combate contra os egípcios. Depois de uns meses de instabilidade, o trono de Judá foi ocupado por Joaquim (609-597 a.C.). Judá voltou a trilhar caminhos de incerteza e insegurança. As injustiças sociais, às vezes fomentadas pelo próprio rei, fragilizavam irremediavelmente o tecido social de Judá; a política de alianças militares com potências estrangeiras, punha em risco a independência nacional. Jeremias entendia, além disso, que ao colocarem a esperança da nação em exércitos estrangeiros, os líderes de Judá estavam a mostrar que não confiavam em Deus. Convencido de que Judá tinha ultrapassado todas as marcas, Jeremias anunciou, a dada altura, a iminência de uma invasão babilónica que castigaria os pecados da nação. As previsões funestas de Jeremias concretizaram-se: em 597 a.C., Nabucodonosor invadiu Judá e deportou para a Babilónia uma parte da população de Jerusalém.
No trono de Judá ficou, então, Sedecias (597-586 a.C.). Inicialmente, Sedecias manteve-se à margem das convulsões políticas que agitavam os povos da região; mas, após alguns anos de calma submissão à Babilónia, Sedecias voltou a experimentar a velha política das alianças com potências regionais, buscando a ajuda do Egito contra a Babilónia. Jeremias, uma vez mais, manifestou o seu desacordo, prevendo o desastre da nação.
Os receios de Jeremias confirmaram-se uma vez mais. Em 587 a.C. Nabucodonosor, rei da Babilónia, pôs cerco a Jerusalém. Um exército egípcio veio em socorro de Judá e os babilónios retiraram-se. Mas Jeremias, convencido de que tinha chegado o fim, anunciou o recomeço do cerco e a destruição de Jerusalém (cf. Jr 32,2-5). Acusado de traição, o profeta foi encarcerado (cf. Jr 37,11- 16), chegando a correr perigo de vida (cf. Jr 38,11-13). Pouco depois, Nabucodonosor entrou em Jerusalém, destruiu a cidade e deportou a sua população para a Babilónia (586 a.C.).
É difícil situar, neste quadro histórico acima apresentado, o momento exato em que Jeremias teria pronunciado as palavras que a primeira leitura deste domingo nos apresenta. Mas poderemos situá-las, provavelmente, no contexto das políticas erráticas de Joaquim (609-597 a.C.) ou de Sedecias (597-586 a.C.), que colocavam a segurança de Judá nas mãos de exércitos estrangeiros, em lugar de confiar em Javé.
MENSAGEM
Em Jr 16,10 Deus, falando com o profeta, prevê que o Povo lhe porá a seguinte questão: “Que pecado ou que crime cometemos contra o Senhor, nosso Deus?”. Jeremias deverá responder: “Os vossos pais abandonaram-me e foram atrás de deuses estranhos, para os servir e adorar, e não guardaram a minha lei. Mas vós fizestes ainda pior que os vossos pais; cada um, sem me escutar, segue os maus desejos do seu coração” (Jr 16,11-12). O texto de Jr 17,5-8 vem na sequência de tudo isto. Refere-se ao pecado de um povo que deixou de confiar em Deus, virou as costas a Deus e passou a construir a sua história sobre realidades humanas, realidades que não lhe asseguram vida verdadeira.
Para Jeremias, uma das manifestações da infidelidade de Judá para com Javé está na política de alianças militares que os reis de Judá procuram celebrar, a fim de se defenderem dos planos imperialistas de certas potências regionais, como o Egito ou a Babilónia. Isso significa, para Jeremias, que Israel confia mais em exércitos estrangeiros do que em Deus. Deus já não é a segurança e a esperança de Judá. Deus perdeu o seu lugar no coração do Povo.
Ao melhor estilo sapiencial, Jeremias denuncia o pecado daqueles que “confiam no homem” e “põem na carne (isto é, nos seres humanos) toda a sua esperança” (vers. 5). Os militares estrangeiros e os seus cavalos de guerra parecem, aos reis de Judá, mais fiáveis do que Deus quando se trata de garantir a segurança da nação. Os que confiam mais em realidades humanas, limitadas e falíveis, são “malditos”. As suas apostas estão condenadas ao fracasso, pois não é nessas realidades que encontrarão a vida e a segurança que buscam. O profeta compara-os a “um cardo na estepe que nem percebe quando chega a felicidade”. Esses que colocam a sua esperança em realidades efémeras e falíveis vivem “na aridez do deserto”: as suas vidas raquíticas e áridas estão condenadas a uma morte precoce (vers. 6). Nunca conhecerão a vida em plenitude.
Bem diferente é a sorte daqueles que “confiam no Senhor e põem no Senhor a sua esperança” (vers. 7). Aqueles que sabem que só Deus é fonte de vida verdadeira e se voltam para Ele, são “como árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para a corrente” e bebe a água revigorante e vivificadora (vers. 8). Quem coloca a sua esperança em Deus, mergulha as suas raízes bem fundo e encontra vida em plenitude. Não o inquietam os tempos de seca e de aridez (as crises e vicissitudes da vida e da história), pois sabe que Deus não lhe falha; e, com uma confiança e uma esperança que nunca serão desmentidas, pode continuar a produzir frutos verdadeiros, frutos de vida.
Provavelmente haverá aqui um aviso a Judá: se o Povo confiar no Senhor e viver de acordo com as suas indicações, lançará as suas raízes de forma permanente na Terra Prometida, onde há vida em abundância; mas, se Judá insistir em ignorar Deus, será arrancado da sua terra e conhecerá a experiência dolorosa do exílio numa terra estrangeira.
INTERPELAÇÕES
- Só vivemos uma vez. Não podemos arriscar-nos a falhar a nossa existência. A nossa vida é um capital demasiado importante para ser esbanjado. Por isso, temos de escolher bem as nossas apostas, os valores em que investimos, as escolhas que fazemos. No entanto, as coisas nem sempre são claras e definidas. Há muita confusão no nosso mundo e muitos interesses cruzados: há coisas que nos são oferecidas como oiro, mas que não passam de um qualquer metal sem valor; há caminhos que nos dizem levar à felicidade e à plena realização, mas que acabam por não nos conduzir a lado nenhum; há investimentos que nos são apresentados como “garantidos”, mas que acabam por nunca nos trazer qualquer retorno. Sobre que bases devemos assentar a nossa vida para que ela valha a pena? O que significa construir a nossa existência sobre rocha firme? Quais os valores a que não podemos renunciar para que a nossa vida não seja um fracasso?
- “Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança” – diz-nos Jeremias. As palavras de Jeremias vão no sentido de nos recomendar que não confiemos nas pessoas que nos rodeiam? São palavras que brotam da experiência amarga de quem se sentiu traído pelas pessoas em quem confiou e que agora desconfia de tudo e de todos? Não. As palavras de Jeremias são apenas um aviso para não colocarmos a nossa esperança e a nossa segurança em realidades humanas, sempre falíveis e sempre efémeras. São palavras que fazem sentido: as relações pessoais desgastam-se, as seguranças humanas que construímos falham, os nossos bens materiais volatilizam-se, as nossas certezas desfazem-se com o embate contra realidades que as desmentem. Em que realidades temos estado a pôr a nossa confiança e a nossa esperança? Não serão realidades com um “prazo de validade” limitado? Podemos construir firmemente a nossa vida sobre elas?
- “Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança” – diz-nos Jeremias. O profeta está convencido de que Deus é sempre fiel e que nunca nos falhará. Podemos confiar na sua bondade, no seu perdão, na sua misericórdia, no seu amor de Pai; podemos confiar nas suas palavras, que nos indicam caminhos válidos para chegarmos à vida verdadeira; podemos entregar-nos confiadamente nas suas mãos e confiar n’Ele, do mesmo modo que a criança pequenina confia no seu pai ou na sua mãe. Confiamos em Deus dessa forma? É nas mãos d’Ele que entregamos a nossa vida? Deus é a nossa melhor aposta, a nossa segurança, a nossa suprema esperança?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 1
Refrão: Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.
Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores,
mas antes se compraz na lei do Senhor,
e nela medita dia e noite.
É como árvore plantada à beira das águas:
dá fruto a seu tempo e sua folhagem não murcha.
Tudo quanto fizer será bem sucedido.
Bem diferente é a sorte dos ímpios:
são como palha que o vento leva.
O Senhor vela pelo caminho dos justos,
mas o caminho dos pecadores leva à perdição.
LEITURA II – 1 Coríntios 15,12.16-20
Irmãos:
Se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos,
porque dizem alguns no meio de vós
que não há ressurreição dos mortos?
Se os mortos não ressuscitam,
também Cristo não ressuscitou.
E se Cristo não ressuscitou,
é vã a vossa fé, ainda estais nos vossos pecados;
e assim, os que morreram em Cristo pereceram também.
Se é só para a vida presente
que temos posta em Cristo a nossa esperança,
somos os mais miseráveis de todos os homens.
Mas não.
Cristo ressuscitou dos mortos,
como primícias dos que morreram.
CONTEXTO
A cidade de Corinto situada a cerca de 10 quilómetros do istmo de Corinto, servida por dois portos de mar, era umas das grandes cidades do Mediterrâneo. Era também um dos grandes centros da cultura grega: sem ter a fama de Atenas tinha, contudo, grande número de poetas, filósofos, oradores e médicos; todas as escolas filosóficas e todas as culturas estavam representadas na cidade. Corinto era, além de tudo isso, um centro religioso onde todos os cultos e religiões estavam representados. O culto principal girava à volta de Afrodite, deusa do amor, que tinha um grande santuário na acrópole da cidade. O culto de Apolo era também muito importante. Adoravam-se ainda diversas divindades estrangeiras, como Ísis e Serapis. Havia numerosos grupos religiosos, ou “Thiasoi”, com um líder à sua frente. Religiões do Oriente e religiões mistéricas estavam representadas no universo religioso de Corinto.
Quando o Evangelho chegou a Corinto, levado por Paulo (no decurso da sua segunda viagem missionária), encontrou-se com toda esta realidade. No entanto, o cristianismo propunha valores muito diferentes daqueles que os coríntios conheciam. O choque dos valores cristãos com a realidade da cultura greco-romana foi inevitável.
Uma das ideias cristãs que encontrou resistência entre os coríntios foi a ressurreição dos mortos. Muitos gregos, influenciados por filosofias dualistas muito em voga (nomeadamente a filosofia platónica), viam no corpo uma realidade negativa e na alma uma realidade ideal e nobre; e, a partir daí, recusavam-se a aceitar que a ressurreição integral do homem. Como poderia o corpo – uma realidade material, carnal, sensual, que aprisionava a alma e a impedia de subir ao mundo ideal – seguir a alma nesse mundo luminoso para onde a alma tendia?
Paulo teve de abordar esta questão que dividia os coríntios. Fê-lo na primeira carta que lhes dirigiu (cf. 1Cor 15). Afinal, a ressurreição estava no centro da fé cristã. Paulo começa por falar aos coríntios da ressurreição de Cristo, realidade sem a qual todo o edifício cristão cai por terra (cf. 1Cor 15,1-11); depois, parte daí para afirmar a ressurreição de todos aqueles que aderiram a Cristo e que d’Ele recebem vida.
MENSAGEM
A ressurreição de Cristo – o tal “Evangelho” (cf. 1Cor 15,1-11) que Paulo recebeu da tradição apostólica e que transmitiu aos seus “filhos” de Corinto – não era contestada pelos membros da comunidade cristã. O que causava problemas aos cristãos de Corinto era a ressurreição dos homens. Como poderia falar-se na ressurreição do homem na sua totalidade, sendo o “corpo” humano uma realidade material, sensível e carnal, que não poderia ter lugar no mundo de Deus?
Paulo, alheio ao dualismo da filosofia grega sobre a realidade do homem, não entra em distinções entre “alma” e “corpo”. O seu raciocínio é linear. Cristo não ressuscitou? Ora, se os coríntios admitem a ressurreição de Cristo também têm de admitir a ressurreição dos homens (vers. 12). A fé em Cristo ressuscitado desemboca inexoravelmente na inquebrantável esperança de que também os cristãos ressuscitarão. O inverso também é verdadeiro: não esperar a ressurreição dos mortos equivale a não acreditar na ressurreição de Cristo (vers. 16).
Paulo passa, então, a enumerar as consequências fatais que adviriam, para a vida cristã, se Cristo não tivesse ressuscitado: a fé que anima a existência cristã, a libertação da escravidão do pecado, a salvação que todos esperam não teriam qualquer sentido e os cristãos seriam gente enganada, ridícula, “os mais miseráveis de todos os homens” (vers. 17-19). Mas Paulo está absolutamente certo de que os cristãos não são um rebanho de gente iludida… A partir da ressurreição de Cristo, podemos acreditar nessa vida plena que Deus reserva para todos os que O amam. É essa certeza que dá sentido à caminhada que o cristão faz neste mundo.
Chegados aqui, Paulo detém-se para lançar um grito jubiloso de fé e de esperança: “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram!” (vers. 20). Jesus ressuscitou não como o único, como um caso excecional, mas como o primeiro de uma longa cadeia da qual fazemos parte. Este “primeiro” não deve ser entendido em sentido cronológico, mas no sentido de que Cristo é o princípio ativo da nossa ressurreição, o princípio que gera essa nova humanidade sobre a qual as forças da morte não têm qualquer poder. Ele arrasta atrás de Si a humanidade solidária com Ele, até à realização plena, à vida definitiva, à salvação total.
INTERPELAÇÕES
- Há questões que, mais tarde ou mais cedo, não podemos deixar de equacionar… Qual o sentido último da nossa vida? Para onde caminhamos? Que nos espera no final do caminho (sempre tão breve!) que percorremos aqui na terra? Estamos condenados ao nada, ao absoluto desaparecimento, ou há uma existência nova, totalmente outra, à nossa espera? Paulo, depois de conhecer a ressurreição de Cristo, a sua vitória sobre a morte, acredita firmemente que estamos destinados à ressurreição, a uma vida nova e definitiva, imersos no amor de Deus. Cristo abriu-nos as portas dessa vida nova que nos espera, ao encontro definitivo com o amor de Deus. Se essa vida futura não existisse, seríamos “os mais miseráveis de todos os homens” e a nossa fé não faria qualquer sentido – diz Paulo. Como vivemos e sentimos tudo isto? No horizonte da nossa existência está a certeza do encontro com o Amor, com a vida nova que Deus oferece aos seus filhos queridos?
- A maneira como olhamos para o nosso horizonte último afetará, provavelmente, a forma como encaramos a vida de todos os dias. Será diferente caminharmos presos a uma sentença de “morte definitiva”, depois de alguns anos de trabalhos e vicissitudes sem fim, ou de caminharmos de olhos postos num horizonte de vida ilimitada, no encontro com o amor de Deus. Como é que a fé na ressurreição dos mortos afeta a nossa vida presente? Muda a nossa perspetiva das coisas, dos valores que cultivamos, das apostas que fazemos, dos comportamentos que assumimos? Ajuda-nos a viver com mais alegria e mais esperança?
- Viver de olhos postos na vida nova que nos espera em Deus implicará renunciar às coisas boas e belas deste mundo? Não. O projeto de Deus para nós é que tenhamos vida em abundância, não apenas no mundo futuro, mas mesmo quando ainda caminhamos na terra. No entanto, a nossa realização e a nossa felicidade – já aqui na terra – depende de escolhas acertadas. Há formas de viver que não nos realizam; há apostas que apenas nos trazem desilusão e vazio; há escolhas que nos levam por caminho onde a vida e a felicidade não estão. Podemos abraçar, ao longo do nosso caminho nesta terra, as coisas boas e belas que nos proporcionam vida verdadeira e que não nos afastam de Deus e do seu amor. É assim que procuramos construir o nosso caminho enquanto andamos cá na terra?
- O medo da morte pode destruir irremediavelmente a nossa existência. Pode paralisar-nos, limitar as nossas opções, fazer-nos viver escondidos, impedir-nos de lutar contra a maldade, a mentira, o pecado que desfeia o mundo. Mas, quando sabemos que estamos destinados à ressurreição, o medo da morte já não nos domina; podemos comprometer-nos na luta pela justiça e pela paz, com a certeza de que a injustiça e a opressão não podem pôr fim à vida que nos anima; e é na medida em que nos comprometemos com esse mundo novo e o construímos com gestos concretos que estamos a anunciar a ressurreição plena do mundo, dos homens e das coisas. A certeza da ressurreição é para mim uma certeza libertadora, que me ajuda a viver com coragem e a assumir o meu compromisso com a construção de um mundo mais justo e mais humano?
ALELUIA – Lucas 6,23ab
Aleluia. Aleluia.
Alegrai-vos e exultai, diz o Senhor,
porque é grande no Céu a vossa recompensa.
EVANGELHO – Lucas 6,17.20-26
Naquele tempo,
Jesus desceu do monte, na companhia dos Apóstolos,
e deteve-Se num sítio plano,
com numerosos discípulos e uma grande multidão
de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sidónia.
Erguendo então os olhos para os discípulos, disse:
Bem-aventurados vós, os pobres,
porque é vosso o reino de Deus.
Bem-aventurados vós, que agora tendes fome,
porque sereis saciados.
Bem-aventurados vós, que agora chorais,
porque haveis de rir.
Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem,
quando vos rejeitarem e insultarem
e prescreverem o vosso nome como infame,
por causa do Filho do homem.
Alegrai-vos e exultai nesse dia,
porque é grande no Céu a vossa recompensa.
Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas.
Mas ai de vós, os ricos,
porque já recebestes a vossa consolação.
Ai de vós, que agora estais saciados,
porque haveis de ter fome.
Ai de vós, que rides agora,
porque haveis de entristecer-vos e chorar.
Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem.
Era assim que os seus antepassados
tratavam os falsos profetas.
CONTEXTO
Depois de apresentar o seu “programa” pastoral na sinagoga de Nazaré (“anunciar a boa nova aos pobres”, “proclamar a redenção aos cativos”, abrir os olhos aos cegos, “a restituir a liberdade aos oprimidos”, “proclamar o ano da graça do Senhor” – Lc 4,18-19), Jesus andou pela Galileia a falar da chegada do Reino de Deus. Os líderes judaicos – especialmente os fariseus e doutores da lei – assumiram, desde os primeiros momentos, uma atitude crítica face ao projeto de Jesus (cf. Lc 5,21-25.33-39; 6,11); mas muitas outras pessoas escutavam Jesus com entusiasmo e todos os dias o procuravam.
À volta de Jesus foi-se rapidamente consolidando um grupo de discípulos. Havia aqueles que Ele tinha chamado – como Simão Pedro, André, Tiago, João e Mateus (cf. Lc 5,10-11. 27-28) – e havia outros que tinham vindo espontaneamente para O ouvir e que tinham ficado com Ele. Um dia, depois de ter passado a noite em oração no cimo de um monte, Jesus escolheu Doze dentre esses discípulos e designou-os como “apóstolos” (cf. Lc 6,12-16). Esses Doze serão o núcleo central da comunidade de Jesus, aqueles em quem Jesus se apoiava e com quem contava de forma especial.
Depois de ter escolhido os Doze, Jesus desceu à planície. Estava acompanhado pelos discípulos e por muita gente que tinha vindo “de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sídon” (Lc 6,17) para o ouvir e ser curada dos seus males. Nessa circunstância, Jesus pronunciou uma longa “instrução”, que ficou conhecida como o “sermão da planície” (cf. Lc 6,20-49). Nessa “instrução”, falou aos que o rodeavam da libertação que trazia e do caminho que devia ser seguido por todos aqueles que quisessem integrar a comunidade do Reino. O Evangelho que a liturgia deste sexto domingo comum nos propõe apresenta-nos o início dessa “instrução”: as “bem-aventuranças”.
O evangelista Mateus também nos apresenta um discurso de Jesus que começa com as “bem-aventuranças” (cf. Mt 5,1-7,29). Na versão de Mateus, contudo, esse discurso é feito no cimo de um monte e não na planície; e não comporta “maldições”. A versão de Lucas é significativamente mais curta. Lucas suprime, no seu texto, muitos elementos tipicamente judaicos que não eram significativas para as comunidades de cultura grega a quem o seu Evangelho se destinava.
A “bem-aventurança” – o género literário aqui utilizado – aparece frequentemente na literatura egípcia e grega. Na sua base está a ideia de que a divindade pode pronunciar palavras poderosas, palavras que uma vez lançadas, têm a faculdade de atuar na vida dos indivíduos e das comunidades. No caso da “bem-aventurança”, a palavra atua de forma positiva, sendo fonte de vida, de bênção e de felicidade.
Frequentemente, a par das “bem-aventuranças” também aparecem “maldições”. A “maldição é uma imprecação ou ameaça destinada a um inimigo ou a alguém que tem comportamentos considerados errados. Muitas vezes começa com a palavra “ai”: evoca o mundo assustador da morte, da desgraça, da infelicidade, sobre a pessoa que é objeto da “maldição”.
MENSAGEM
Lucas inicia este “discurso da planície” – dirigido aos discípulos de todas as épocas – com quatro bem-aventuranças (em Mateus, as “bem-aventuranças” são oito). Os que são referidos como “bem-aventurados” são os pobres (vers. 20b), os que têm fome (vers. 21a), os que choram (vers. 21b), os que são perseguidos (vers. 22-23).
Quem são os “pobres” (“ptôchos”)? A palavra grega usada por Lucas traduz vários termos hebraicos (“‘anawim”, “dallim”, “ebionim”) que, no Antigo Testamento, definem uma classe de pessoas privadas de bens e à mercê da prepotência dos ricos e dos poderosos; são os desprotegidos, os explorados, os pequenos e sem voz, os que são vítimas da injustiça, os que são despojados dos seus direitos e da sua dignidade pela arbitrariedade dos grandes. No entanto, a palavra não define um âmbito meramente sociológico: os “pobres” serão também aqueles que, privados de tudo, põem a sua confiança em Deus e se entregam confiadamente nas mãos de Deus. Considera-se, talvez com alguma ingenuidade, que aqueles que não têm qualquer segurança humana estão mais disponíveis para acolher os dons de Deus.
“Os que têm fome” são aqueles que não têm o pão de cada dia para si próprios e para as suas famílias; mas são também todos aqueles que, excluídos e desconsiderados, não têm lugar à mesa do banquete onde os seus irmãos saciam a sua fome de vida. São aqueles que, de qualquer forma, vivem em situação de carência. Deus irá oferecer-lhes o alimento de que necessitam para que tenham vida em abundância.
“Os que choram” são aqueles que vivem mergulhados numa dor sem fim e sem remédio: os doentes incuráveis, as vítimas de todas as injustiças, os que são magoados pelo egoísmo e pela maldade dos seus irmãos. O mundo é para eles um vale de lágrimas, e os seus dias esgotam-se na tristeza e no desalento. Deus irá enxugar as lágrimas amargas que brotam dos seus corações doloridos.
Quem são “os perseguidos”? Lucas utiliza quatro vocábulos para definir aquilo que lhes acontece: são os odiados (“miseo”), os rejeitados (“aphorizo”), os insultados (“oneidizo”), os marcados como infames (“poneron”). Eles são vítimas da intolerância e do desprezo dos seus irmãos por causa das suas convicções e pela forma acolhem o Evangelho da verdade. O seu sofrimento coloca-os na linha dos profetas; mas Deus dar-lhes-á razão e fá-los-á triunfar sobre os seus detratores.
A todos esses que sofrem, Jesus promete que a sua triste situação vai mudar. Eles irão conhecer a felicidade, pois a chegada do Reino de Deus introduzirá um dinamismo novo no mundo. O sofrimento que conhecem e que os afoga será vencido. Através da ação de Jesus, Deus vai proporcionar a todos os seus queridos filhos o encontro com uma vida nova e plenamente realizada. O Deus que outrora libertou o seu Povo do cativeiro egípcio está decidido a continuar a sua obra salvadora em favor dos seus filhos que sofrem. O Deus que age em Jesus é o Deus libertador e salvador do Êxodo.
Do lado oposto estão os ricos (vers. 24), os saciados (vers. 25a), os que riem (vers. 25b), os elogiados por toda a gente (vers. 26). “Ai de vós” – diz-lhes Jesus. A exclamação “ai” com que começa cada uma das “maldições” equivale às lamentações que se usam em contexto funerário. É uma exclamação de dor e de pena dita por alguém que contempla uma realidade e lamenta a desgraça que dela vai resultar. A expressão aparece frequentemente nas admoestações dos profetas (cf. Is 5,8-23; Hab 2,6-19; Am 6,1; Sir 2,12-14).
Os “ricos” são aqueles que têm dinheiro em abundância e que colocam toda a sua esperança e segurança nos bens materiais. Acham que não precisam de Deus, pois o dinheiro oferece-lhes tudo o que necessitam para uma vida de tranquilidade e bem-estar. Na verdade, são prisioneiros dos bens que endeusaram; e nunca alcançarão uma vida feliz e plenamente realizada.
Os “saciados” são aqueles que, não apenas têm pão com fartura, mas têm abundância de todas as coisas boas que a vida pode oferecer. “De barriga cheia”, apostados em gozar a vida, tendem a esquecer-se de Deus e dos seus irmãos. Acham que a fome do mundo não lhes diz respeito. Chegará a altura em que serão privados daquilo que agora lhes sobra; então, considerarão que a sua vida perdeu todo o sentido e lamentarão a sua desgraça.
“Os que agora riem” são aqueles vivem permanentemente em festa e zombam das lágrimas dos seus irmãos. O verbo usado (“gelao”) pode traduzir a ideia de “troçar da miséria” dos outros (cf. Lm 1,7). Jesus garante-lhes que esse riso sarcástico e desdenhoso lhes desaparecerá dos lábios quando perceberem que estão fora da comunidade do Reino.
Os “elogiados” por toda a gente, não são aqueles que toda a gente aprecia pela sua bondade e integridade; mas são, neste contexto, aqueles que fazem tudo para serem populares, muitas vezes à custa da verdade e da própria dignidade. São aqueles que trocam os valores consistentes e duradouros por uns minutos de fama e de aplausos. Estarão a construir a sua vida sobre a areia, e rapidamente serão abandonados e esquecidos.
No discurso das “bem-aventuranças”, Jesus inverte completamente a escala de valores que predomina no nosso mundo. Segundo Jesus, os ricos, os que são admirados, os que parecem ter tudo para serem felizes, podem falhar completamente na construção de uma vida com sentido; enquanto que os pobres, os pequenos, os que nunca obtêm reconhecimento social, os que o mundo despreza e cataloga como “fracassados”, são, aos olhos de Deus, os vencedores, os que terão condições para construir uma vida feliz e plenamente realizada. A lógica de Deus está infinitamente distante da lógica que comanda o mundo e os homens.
As “bem-aventuranças” também nos dão a conhecer o “coração” de Deus. Mostram-nos que Deus sempre teve e sempre terá “um fraquinho” pelos pobres e desprezados. Não porque eles sejam melhores e mais santos; mas porque necessitam, mais do que os outros, de ser acompanhados e sustentados pelo amor misericordioso de Deus.
INTERPELAÇÕES
- Dois mil anos depois de Jesus ter feito o “sermão da planície”, as “bem-aventuranças” continuam a soar aos nossos ouvidos de uma forma estranha e paradoxal. Deixam-nos perplexos e algo desconcertados, pois apontam num sentido que parece ir contra o senso comum. Parecem subverter todas as nossas lógicas e contradizer tudo aquilo que sabemos sobre êxito e fracasso. São um desafio que ameaça todas as nossas certezas e seguranças, a nossa sabedoria convencional e a nossa organização social. Poderão realmente ser um caminho para a felicidade e para a plena realização do ser humano? Jesus tem razão quando garante que a verdadeira felicidade se alcança por caminhos completamente diferentes dos que a sociedade atual propõe? As “bem-aventuranças” serão uma desculpa de fracassados, conversa de gente que não tem coragem para competir, para se impor, para triunfar, ou serão uma forma de construir um mundo diferente, mais justo, mais humano e mais fraterno? O nosso mundo ganharia alguma coisa se abandonássemos a competitividade e a luta feroz pelo êxito humano e optássemos por viver na lógica das “bem-aventuranças”? Seríamos mais livres e mais felizes se renunciássemos a certos valores que a sociedade impõe e passássemos a viver de acordo com os valores propostos por Jesus?
- Jesus disse: “bem-aventurados vós, os pobres”; e, em contraponto, “ai de vós, os ricos, que já recebestes a vossa consolação”. Será que Deus, depois de pôr à nossa disposição os bens materiais, mudou de ideias e veio pedir-nos para escolhermos a privação, a indigência, a miséria? É claro que não. Deus quer que tenhamos o necessário para viver dignamente; mas não quer que guardemos para nosso uso exclusivo os bens que pertencem a todos. Deus quer ver-nos caminhar sem privações e sem carências; mas não quer que adoremos o dinheiro e que sejamos escravos de coisas que são meramente acessórias. Deus quer que tenhamos conforto e bem-estar; mas não quer que ignoremos a miséria e a indigência em que vive um quinto da humanidade. Como lidamos com os bens materiais? Eles são a nossa prioridade? Escravizam-nos e absorvem-nos de tal forma que nos roubam a liberdade? Admitimos que os bens que Deus colocou nas nossas mãos pertencem a todos os filhos e filhas de Deus?
- Jesus disse: “bem-aventurados vós, que agora tendes fome”; e, em contraponto, “ai de vós, que agora estais saciados”. A “fome” – de pão, de paz, de amor, de liberdade, de acesso à educação, de cuidados de saúde, de uma vida digna – que atinge dramaticamente tantos dos nossos irmãos não é uma realidade inevitável, à luz do projeto de Deus para o mundo e para os homens. A “fome” é uma realidade que nos envergonha e com a qual não podemos conformar-nos. Ela existe porque muitas vezes, instalados comodamente no nosso bem-estar (“saciados”), não queremos saber dos nossos irmãos que sofrem todo o tipo de carências. Insensíveis e acomodados, viramos o rosto para o lado para não sermos questionados pela “fome” do mundo. Sentimos que somos responsáveis pela “fome” que faz sofrer tantos e tantos dos nossos irmãos? O que podemos fazer para a minorar?
- Jesus disse: “bem-aventurados vós, que agora chorais”; e, em contraponto, “ai de vós, que rides agora”. Deus tem alguma coisa contra a alegria e os risos? É claro que não. A felicidade de Deus é ver os seus filhos mergulhados numa alegria verdadeira e numa felicidade sem sombras. O que Deus desaprova é o posicionamento daqueles que continuam a rir e a gozar a vida sem quererem saber da tristeza e das lágrimas dos seus irmãos; o que Deus reprova é o riso sarcástico daqueles que veem os seus irmãos caídos na berma da estrada da vida e os olham com o desprezo que os vencedores sentem pelos vencidos. Sentimo-nos solidários com os nossos irmãos que sofrem e choram? O que fazemos para secar as suas lágrimas e curá-los dos seus padecimentos?
- Jesus disse: “bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos rejeitarem e insultarem, e prescreverem o vosso nome como infame”; e, em contraponto, “ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem”. Qual é o mal de sermos reconhecidos e elogiados por aqueles que conhecem o que somos e o que fazemos? Nenhum. O que pode ser mal é “vendermos a alma ao diabo” para conquistar reconhecimento e aplausos; o que pode ser mal é renunciarmos aos nossos princípios para termos o aplauso dos nossos concidadãos; o que pode ser mal é o cedermos ao socialmente correto para chegarmos mais longe no caminho do êxito; o que pode ser mal é “suavizarmos” as exigências de Jesus para sermos “modernos” e populares. Somos capazes de renunciar aos nossos valores para sermos admirados e aplaudidos pelos homens?
- As “bem-aventuranças” dão-nos um retrato bem bonito do coração paternal e maternal de Deus. Garantem-nos que Deus é sensível ao sofrimento dos seus filhos e que sente um carinho especial pelos que sofrem mais. Ele está sempre disponível para confortar os que estão feridos e magoados e para os ajudar a sair da sua triste situação. Como é que vemos e sentimos esta “sensibilidade” de Deus pelos mais frágeis e pequenos? Agrada-nos? É para nós fonte de esperança? O carinho de Deus pelos que precisam mais de amor inspira-nos e leva-nos a cuidar especialmente dos nossos irmãos que a vida maltrata? Somos testemunhas e profetas do amor de Deus no mundo?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 6.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(algumas, em parte, adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 6.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PÔR EM DESTAQUE O EVANGELIÁRIO E CONCRETIZAR A ORAÇÃO UNIVERSAL.
Neste domingo em que começa a leitura do “sermão na planície”, pode-se valorizar o Evangeliário, levando-o à frente da procissão no início da celebração ou colocando-o no centro do altar, e rodeando-o com quatro velas ou lamparinas (em referência às quatro bem-aventuranças de Lucas). As “atividades caritativas” são iniciativas que pretendem levar a felicidade aos deserdados e aos marginalizados. Fazer um inventário das atividades caritativas na comunidade pode levar, neste domingo, a que a oração universal esteja mais enraizada nas realidades do terreno.
3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
“Senhor, Tu és a nossa esperança, em Ti pomos a nossa confiança, bendito sejas. O teu Espírito é como a água que torna verdejante a erva e faz crescer a árvore, ele nos irriga com a tua vida e nos faz produzir os frutos que Tu esperas.
Nós Te confiamos os nossos irmãos e irmãs cuja fé secou. Não permitas que os nossos corações se afastem de Ti”.
No final da segunda leitura:
“Deus de vida, nós proclamamos que Jesus Cristo, teu Filho, ressuscitou de entre os mortos, para ser entre os mortos o primeiro ressuscitado; nós Te damos graças pela firme esperança que nos dás, de ressuscitar contigo.
Nós Te confiamos todos os nossos irmãos que duvidam da vida e ignoram ainda a luz da ressurreição em Jesus”.
No final do Evangelho:
“Pai dos pobres, Deus de misericórdia, bendito sejas pela esperança que revelas aos pobres, aos pequenos e a todos os feridos da vida, aqueles que a sociedade despreza e negligencia. Tu ofereces-lhes a felicidade do teu Reino.
Tantos companheiros à nossa volta andam à procura da felicidade e não sabemos como os ajudar. Ilumina-os com o teu Espírito”.
4. BILHETE DE EVANGELHO.
A felicidade de que fala Jesus está inscrita nos rostos dos seus discípulos. É, de facto, olhando-os que Ele os declara “felizes”. Duas bem-aventuranças estão no presente. Os discípulos são já felizes, porque são pobres: deixaram tudo, barco, família, para inaugurar com Jesus o seu Reino e pregar a sua carta. São felizes porque são já cidadãos deste Reino. São já felizes porque são como o seu Mestre, rejeitados, insultados. O seu discurso incomoda, porque convida a uma mudança, a um regresso a Deus: amar é já sair de si mesmo.
5. À ESCUTA DA PALAVRA.
Há diferenças entre as bem-aventuranças na versão de Mateus e na de Lucas. Indiciam duas tradições. Mateus apresenta nove bem-aventuranças, Lucas somente quatro. Mateus diz que Jesus subiu a montanha… Lucas diz que Ele desceu da montanha… Uma contradição apenas aparente. Dois relatos complementares. Para escutar as bem-aventuranças em Mateus, é preciso subir à montanha, elevar-se, subir para Deus. Isso sugere que, para viver segundo o espírito do Evangelho, não nos podemos fechar nos estreitos limites da terra. É preciso subir, respirar um ar mais puro, mais transparente. Isso exige, certamente, um esforço, pois trata-se de deixar o Espírito soprar em nós o ar de Deus. É preciso esforço, como para subir uma montanha, é preciso treino, paciência e também silêncio, atenção interior. Mas isso não significa que devemos desinteressar-nos desta vida muito concreta, da vida ordinária de todos os dias. O Evangelho não é uma droga que nos faria ver um mundo desencarnado. Jesus quer encontrar-nos na planície das nossas vidas muito reais, como está expresso nas situações das bem-aventuranças. Por seu lado, os ricos são infelizes porque, no fundo, se esquecem de sair de si mesmos, de subir à montanha para respirar o ar de Deus.
6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III para a Assembleia com Crianças, pelas várias expressões relacionadas com a liturgia da Palavra.
7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
Levar para as nossas vidas as palavras de felicidade escutadas neste domingo e transformá-las em atitudes de alegria e de encontro com os outros, transmitindo felicidade àqueles que vivem infelizes ao nosso lado… Fazer com que a vida da próxima semana tenha muitos momentos de alegria e de felicidade… que só o serão se partilhados e sentidos com o próximo, a começar pelos que estão na minha casa, no meu trabalho, na minha escola, na minha comunidade, na minha paróquia…
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org