29º Domingo do Tempo Comum – Ano c

ANO C
29º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 29º Domingo do Tempo Comum

A Palavra que a liturgia de hoje nos apresenta convida-nos a manter com Deus uma relação estreita, uma comunhão íntima, um diálogo insistente: só dessa forma será possível ao crente aceitar os projectos de Deus, compreender os seus silêncios, respeitar os seus ritmos, acreditar no seu amor.
O Evangelho sugere que Deus não está ausente nem fica insensível diante do sofrimento do seu Povo… Os crentes devem descobrir que Deus os ama e que tem um projecto de salvação para todos os homens; e essa descoberta só se pode fazer através da oração, de um diálogo contínuo e perseverante com Deus.
A primeira leitura dá a entender que Deus intervém no mundo e salva o seu Povo servindo-Se, muitas vezes, da acção do homem; mas, para que o homem possa ganhar as duras batalhas da existência, ele tem que contar com a ajuda e a força de Deus… Ora, essa ajuda e essa força brotam da oração, do diálogo com Deus.
A segunda leitura, sem se referir directamente ao tema da relação do crente com Deus, apresenta uma outra fonte privilegiada de encontro entre Deus e o homem: a Escritura Sagrada… Sendo a Palavra com que Deus indica aos homens o caminho da vida plena, ela deve assumir um lugar preponderante na experiência cristã.

LEITURA I – Ex 17,8-13a

Leitura do Livro do Êxodo

Naqueles dias,
Amalec veio a Refidim atacar Israel.
Moisés disse a Josué:
«Escolhe alguns homens
e amanhã sai a combater Amalec.
Eu irei colocar-me no cimo da colina,
com a vara de Deus na mão».
Josué fez o que Moisés lhe ordenara e atacou Amalec,
enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina.
Quando Moisés tinha as mãos levantadas,
Israel ganhava vantagem;
mas quando as deixava cair, tinha vantagem Amalec.
Como as mãos de Moisés se iam tornando pesadas,
trouxeram uma pedra e colocaram-no por debaixo
para que ele se sentasse,
enquanto Aarão e Hur, um de cada lado,
lhe seguravam as mãos.
Assim se mantiveram firmes as suas mãos até ao pôr do sol
e Josué desbaratou Amalec e o seu povo ao fio da espada.

AMBIENTE

A primeira leitura de hoje situa-nos no contexto da caminhada dos hebreus pelo deserto (antes da entrada na Terra Prometida) e no quadro de um confronto violento entre os hebreus e um grupo de habitantes do deserto.
Os inimigos que, neste episódio, os hebreus tiveram de enfrentar são designados como “Amalek”. As listas de Gn 36,12.16 ligam-nos à descendência de Esaú, o que os torna etnicamente aparentados com os hebreus… Seja como for, trata-se de tribos nómadas, violentas e agressivas (Dt 25,17-19 faz referência a uma emboscada montada pelos amalecitas aos hebreus em marcha pelo deserto e ao assassínio de alguns membros da comunidade do Povo de Deus que, sedentos e esgotados, caminhavam na retaguarda da coluna), que habitavam o Negev (cf. Nm 13,29; Jz 1,16) e que se opuseram, desde o início, à penetração israelita na Terra Prometida. Mais tarde, estes mesmos amalecitas aparecerão como adversários de Saúl (cf. 1 Sm 15) e de David (cf. 1 Sm 30). Para os hebreus, são os inimigos por excelência. Segundo a Melkhita sobre o Êxodo, rabi Eliézer dizia: “Deus jurou pelo trono da sua glória que, se qualquer uma das nações viesse para se fazer prosélita, seria recebida; mas Amalek nunca seria recebida na sua casa”.
Para entendermos cabalmente o texto que aqui nos é proposto, convém ainda recordar que as tradições sobre a libertação (Ex 1-18) têm como objectivo primordial fazer uma catequese sobre o Deus libertador, que salvou o seu Povo da opressão e da morte, que o fez atravessar a pé enxuto o mar Vermelho e o encaminhou através do deserto… Não interessa aqui a reportagem jornalística do acontecimento; importa a catequese sobre esse Deus a quem Israel é convidado – pela história fora – a agradecer a sua vida e a sua liberdade.

MENSAGEM

A nossa história narra, pois, um confronto entre os hebreus em marcha pelo deserto e os amalecitas; enquanto o Povo chefiado por Josué combatia contra os inimigos, Moisés, no cimo de um monte, rezava e implorava a ajuda de Deus… De acordo com os catequistas de Israel, enquanto Moisés mantinha as mãos levantadas, os hebreus levavam vantagem sobre os inimigos; mas logo que Moisés, vencido pelo cansaço, deixava cair as mãos, eram os amalecitas que dominavam. A solução foi colocar Aarão e Hur ao lado de Moisés, amparando-lhe as mãos: assim, os hebreus levaram de vencida os inimigos.
Não interessa, aqui, perguntar se a história se passou exactamente assim, ou se Deus estava mesmo do lado dos hebreus, ajudando-os a massacrar os amalecitas… Temos de entender este texto como uma página de catequese, através da qual os teólogos de Israel pretendem educar o seu Povo; e aquilo que esta catequese pretende ensinar é que a libertação se deve, mais do que aos esforços do Povo, à acção de Deus.
Por outro lado, a catequese que o texto nos propõe sublinha a importância da oração. Os teólogos de Israel sabem (e pretendem deixar essa mensagem) que é preciso invocar o Deus libertador com perseverança e insistência. Para vencer as duras batalhas que a vida nos apresenta, é preciso ter a ajuda e a força de Deus; e essa ajuda e essa força brotam de um diálogo contínuo, nunca interrompido e nunca acabado, do crente com Deus.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes coordenadas:

• O que nós temos no Livro do Êxodo não é o retrato de um Deus injusto e parcial, que ajuda um Povo a derrotar e a chacinar outros povos; mas é uma catequese em que um Povo, olhando para a sua história numa perspectiva de fé, constata a presença e a acção de Deus nesse processo de libertação que os trouxe da escravidão para a liberdade. Os teólogos de Israel quiseram ensinar – embora servindo-se de formas de expressão típicas da sua época – que Deus não ficou de braços cruzados diante do sofrimento do seu Povo e que, por isso, veio ao seu encontro, conduziu-o, deu-lhe forças e permitiu-lhe ser senhor do seu destino… Portanto, é a Deus que Israel deve agradecer a sua salvação. Hoje, somos convidados a percorrer um caminho semelhante e a descobrir o Deus libertador vivo e actuante na nossa história, agindo no coração e na vida de todos aqueles que lutam por um mundo mais justo, mais livre e mais humano. Israel descobriu que, no plano de Deus, aquilo que oprime e destrói os homens não tem lugar; e que, sempre que alguém luta para ser livre, Deus está com essa pessoa e age nela.

• É exactamente por a ajuda de Deus ser decisiva na luta por um mundo mais livre e mais humano que os catequistas de Israel sublinham o papel da oração… Quem sonha com um mundo melhor e luta por ele, tem de
viver num diálogo contínuo, profundo, com Deus: é nesse diálogo que se percebe o projecto de Deus para o mundo e se recebe d’Ele a força para vencer tudo o que oprime e escraviza o homem. A oração que dá sentido e conteúdo à intervenção no mundo faz parte da minha vida?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 120 (121)

Refrão: O nosso auxílio vem do Senhor,
que fez o céu e a terra.

Levanto os meus olhos para os montes:
donde me virá o auxílio?
O meu auxílio vem do Senhor,
que fez o céu e a terra.

Não permitirá que vacilem os teus passos,
não dormirá Aquele que te guarda.
Não há-de dormir nem adormecer
aquele que guarda Israel.

O Senhor é quem te guarda,
o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo.
O sol não te fará mal durante o dia,
nem a luz durante a noite.

O Senhor te defende de todo o mal,
o Senhor vela pela tua vida.
Ele te protege quando vais e quando vens,
agora e para sempre.

LEITURA II – 2 Tim 3,14-4,2

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo

Caríssimo:
Permanece firme no que aprendeste
e aceitaste como certo,
sabendo de quem o aprendeste.
Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras;
elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação,
pela fé em Cristo Jesus.
Toda a Escritura, inspirada por Deus,
é útil para ensinar, persuadir, corrigir
e formar segundo a justiça.
Assim o homem de Deus será perfeito,
bem preparado para todas as boas obras.
Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo,
que há-de julgar os vivos e os mortos,
pela sua manifestação e pelo seu reino:
Proclama a palavra,
insiste a propósito e fora de propósito,
argumenta, ameaça e exorta,
com toda a paciência e doutrina.

AMBIENTE

A segunda leitura oferece-nos, mais uma vez, um trecho da Segunda Carta a Timóteo. Recordamos (outra vez) que a redacção desta carta deve ser colocada nos finais do séc. I ou princípios do séc. II, numa altura em que as comunidades cristãs se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes e as falsas doutrinas… O autor desta carta pretende convidar os crentes em geral (e os animadores das comunidades, em particular) a redescobrirem o entusiasmo pelo Evangelho e a defenderem-se de tudo aquilo que punha em causa a verdade recebida de Jesus, através dos apóstolos.

MENSAGEM

No geral, o trecho que nos é proposto é uma exortação a Timóteo, no sentido de permanecer fiel à verdadeira doutrina aprendida da Tradição e da Escritura. Insinuam-se já, aqui, os critérios de discernimento adoptados no séc. II para distinguir a verdadeira da falsa doutrina: a posse da verdade está garantida quando aquele que ensina é um sucessor legítimo dos apóstolos (deles recebeu a autoridade para animar e pastorear a Igreja) e quando ele transmite fielmente a verdade recebida dos apóstolos, em conformidade com a Escritura.
A Palavra transmitida na Escritura é “inspirada por Deus” (o termo grego “théopneustos”, aqui utilizado, tem sentido passivo e sugere que, na composição dos livros que formam a Escritura, interveio, além do autor humano, o próprio Deus); por isso, nela está “a sabedoria que leva à salvação” (3,15). A utilidade da Escritura é descrita através de quatro verbos fortes: “ensinar”, “persuadir”, “corrigir” e “formar”. Fica assim claro que a Escritura é a fonte para toda a formação e educação cristã, para fazer aparecer o “homem perfeito” (3,17).
Nos últimos versículos do nosso texto (4,1-2), continua a exortação a Timóteo no sentido de que cumpra a sua tarefa de animador da comunidade cristã de forma adequada e entusiasta. Em tom solene e patético, o autor desta carta convida Timóteo a proclamar a Palavra “a propósito e fora de propósito” (a expressão utilizada indica que a Palavra deve ser proclamada mesmo quando a ocasião não parece muito propícia, sem medo, sem respeitos humanos, sem falsos pudores), “com toda a paciência e doutrina” (isto é, com uma adequada pedagogia pastoral).

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão e partilha podem fazer-se de acordo com as seguintes linhas:

• Dizer que a Escritura é inspirada por Deus significa que ela contém as palavras que Deus quer dirigir-nos, a fim de nos indicar o caminho para a vida plena… No dizer de Leão XIII, a Escritura é “uma carta outorgada pelo Pai celeste ao género humano viandante longe da sua pátria, e que os autores sagrados nos transmitiram” (Providentissimus Deus, nº 4). A Escritura deve, pois, assumir um lugar preponderante na nossa vida pessoal e na vida das nossas comunidades cristãs. Isso acontece? Que lugar ocupa a leitura, a reflexão e a partilha da Palavra de Deus na minha vida? Que lugar ocupa a Palavra de Deus na vida e na experiência das nossas comunidades cristãs? O que é que assume um valor mais determinante na experiência cristã: as práticas rituais, as devoções particulares, as leis e os códigos, ou a Palavra de Deus?

• Porque a Palavra de Deus aparece envolta em roupagens e géneros literários típicos de uma época e de uma cultura determinada, é preciso estudá-la, aprender a conhecer o mundo e a cultura bíblica, compreender o enquadramento e o ambiente em que o autor sagrado escreve… As nossas comunidades cristãs têm o cuidado de organizar iniciativas no campo da informação e do estudo bíblico, de forma a proporcionar aos nossos cristãos uma informação adequada para compreender melhor a Palavra de Deus? E quando há essa informação, os nossos cristãos têm o cuidado de a aproveitar? Porquê?

• A leitura que nos foi proposta chama, também, a atenção daqueles que estão ao serviço da Palavra: eles devem anunciá-la em todas as circunstâncias, sem respeito humano, sem jogos de conveniências, sem atenuarem a radicalidade da Palavra; e devem, também, preparar-se convenientemente, a fim de que a Palavra se torne atraente e chegue ao coração dos que a escutam… É assim que procedem aqueles a quem a Igreja confia o serviço da Palavra?

ALELUIA – Heb 4,12

Aleluia. Aleluia.

A palavra de Deus é viva e eficaz,
pode discernir os pensamentos e intenções do coração.

EVANGELHO – Lc 18,1-8

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
Jesus disse aos seus discípulos uma parábola
sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar:
«Em certa cidade vivia um juiz
que não temia a Deus nem respeitava os homens.
Havia naquela cidade uma viúva
que vinha ter com ele e lhe dizia:
‘Faz-me justiça contra o meu ad
versário’.
Durante muito tempo ele não quis atendê-la.
Mas depois disse consigo:
‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens;
mas, porque esta viúva me importuna,
vou fazer-lhe justiça,
para que não venha incomodar-me indefinidamente’».
E o Senhor acrescentou:
«Escutai o que diz o juiz iníquo!…
E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos,
que por Ele clamam dia e noite,
e iria fazê-los esperar muito tempo?
Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa.
Mas quando voltar o Filho do homem,
encontrará fé sobre esta terra?»

AMBIENTE

O Evangelho apresenta-nos mais uma etapa do “caminho de Jerusalém”. O texto que hoje nos é proposto vem na sequência do discurso escatológico sobre a vinda gloriosa do Filho do Homem (cf. Lc 17,20-37). A parábola do juiz e da viúva deve, pois, ser entendida neste ambiente.
Trata-se de um texto que não tem paralelo noutro evangelista; no entanto, é similar à parábola do amigo importuno que vem pedir pão a meio da noite e que é atendido por causa da sua insistência (cf. Lc 11,5-8).
Não esqueçamos que Lucas escreveu o terceiro Evangelho durante a década de 80… É uma época em que as comunidades cristãs sofrem por causa da hostilidade dos judeus e dos pagãos e em que já se anunciam as grandes perseguições que dizimaram as comunidades cristãs no final do séc. I. Os cristãos estão inquietos, desanimados e anseiam pela segunda vinda de Cristo – isto é, pela intervenção definitiva de Deus na história para derrotar os maus e salvar o seu Povo.

MENSAGEM

O nosso texto consta de uma parábola e da sua aplicação teológica.
Os personagens centrais da parábola (vers 2-5) são uma viúva e um juiz. A viúva, pobre e injustiçada (na Bíblia, é o protótipo do pobre sem defesa, vítima da prepotência dos ricos e dos poderosos), passava a vida a queixar-se do seu adversário e a exigir justiça; mas o juiz, “que não temia Deus nem os homens”, não lhe prestava qualquer atenção… No entanto, o juiz – apesar da sua dureza e insensibilidade – acabou por fazer justiça à viúva, a fim de se livrar definitivamente da sua insistência importuna.
Apresentada a parábola, vem a sua aplicação teológica (vers. 6-8). Se um juiz prepotente e insensível é capaz de resolver o problema da viúva por causa da sua insistência, Deus (que não é, nem de perto nem de longe, um juiz prepotente e sem coração) não iria escutar os “seus eleitos que por Ele clamam dia e noite e iria fazê-los esperar muito tempo?”
Naturalmente, estamos diante de uma pergunta retórica. É evidente que, se até um juiz insensível acaba por fazer justiça a quem lhe pede com insistência, com muito mais motivo Deus – que é rico em misericórdia e que defende sempre os débeis – estará atento às súplicas dos seus filhos.
Dado o contexto em que a parábola aparece, é certo que Lucas pretende dirigir-se a uma comunidade cristã cercada pela hostilidade do mundo, que começava a ver no horizonte próximo o espectro das perseguições e que estava desanimada porque, aparentemente, Deus não escutava as súplicas dos crentes e não intervinha no mundo para salvar a sua Igreja. A resposta que Lucas deixa aos seus cristãos é a seguinte: ao contrário do que parece, Deus não abandonou o seu Povo, nem é insensível aos seus apelos; Ele tem o seu projecto, o seu plano e o seu tempo próprio para intervir… Aos crentes resta moderar a sua impaciência e confiar em que Ele não deixará de intervir para os libertar.
Que é que tudo isto tem a ver com a oração? Porque é que esta é uma parábola sobre a necessidade de rezar (“Jesus disse-lhes uma parábola sobre a necessidade de orar sempre, sem desanimar” – vers. 1)? Lucas pede aos cristãos a quem a mensagem se destina que, apesar do aparente silêncio de Deus, não deixem nunca de dialogar com Ele. É nesse diálogo que entendemos os projectos e os ritmos de Deus; é nesse diálogo que Deus transforma os nossos corações; é nesse diálogo que aprendemos a entregar-nos nas mãos de Deus e a confiar n’Ele. Sobretudo, que nada (nem o desânimo, nem a desconfiança perante o silêncio de Deus) nos leve a desistir de uma verdadeira comunhão e de um profundo diálogo com Deus.

ACTUALIZAÇÃO

Na reflexão, podem ser considerados os seguintes aspectos:

• Porque é que Deus permite que tantos milhões de homens sobrevivam em condições tão degradantes? Porque é que os maus e injustos praticam arbitrariedades sem conta sobre os mais débeis e nenhum mal lhes acontece? Como é que Deus aceita que 2.800 milhões de pessoas (cerca de metade da humanidade) vivam com menos de três euros por dia? Como é que Deus não intervém quando certas doenças incuráveis ameaçam dizimar os pobres dos países do quarto mundo, perante a indiferença da comunidade internacional? Onde está Deus quando as ditaduras ou os imperialismos maltratam povos inteiros? Deus não intervém porque não quer saber dos homens e é insensível em relação àquilo que lhes acontece? É a isto que o Evangelho de hoje procura responder… Lucas está convicto de que Deus não é indiferente aos gritos de sofrimento dos pobres e que não desistiu de intervir no mundo, a fim de construir o novo céu e a nova terra de justiça, de paz e de felicidade para todos… Simplesmente, Deus tem projectos e planos que nós, na nossa ânsia e impaciência, não conseguimos perceber. Deus tem o seu ritmo – um ritmo que passa por não forçar as coisas, por respeitar a liberdade do homem… A nós resta-nos respeitar a lógica de Deus, confiar n’Ele, entregarmo-nos nas suas mãos.

• Para que Deus e os seus projectos façam sentido ou, pelo menos, para que a aparente falta de lógica dos planos de Deus não nos lancem no desespero e na revolta, é preciso manter com Ele uma relação de comunhão, de intimidade, de diálogo. Através da oração, percebemos quem Deus é, percebemos o seu amor e a sua misericórdia, descobrimos a sua bondade e a sua justiça… E, dessa forma, constatamos que Ele não é indiferente à sorte dos pobres e que tem um projecto de salvação para todos os homens. A oração é o caminho para encontrarmos o amor de Deus.

• O diálogo que mantemos com Deus não pode ser um diálogo que interrompemos quando deixamos de perceber as coisas ou quando Deus parece ausente; mas é um diálogo que devemos manter, com perseverança e insistência. Quem ama de verdade, não corta a relação à primeira incompreens&ati
lde;o ou à primeira ausência. Pelo contrário, a espera e a ausência provam o amor e intensificam a relação.

• A oração não é uma fórmula mágica e automática para levar Deus a fazer-nos as “vontadinhas”… Muitas vezes, Deus terá as suas razões para não dar muita importância àquilo que Lhe pedimos: às vezes pedimos a Deus coisas que nos compete a nós conseguir (por exemplo, passar nos exames); outras vezes, pedimos coisas que nos parecem boas, mas que a médio prazo podem roubar-nos a felicidade; outras vezes, ainda, pedimos coisas que são boas para nós, mas que implicam sofrimento e injustiça para os outros… É preciso termos consciência disto; e quando parece que Deus não nos ouve, perguntemos a nós próprios se os nossos pedidos farão sentido, à luz da lógica de Deus.

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 29º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 29º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. PALAVRA CELEBRADA NA EUCARISTIA.
A Palavra de Deus não se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na preparação da celebração, procurar que algumas expressões da liturgia da Palavra estejam presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração dos fiéis, num momento de acção de graças…

3. BILHETE DE EVANGELHO.
O juiz da parábola faz justiça, não para fazer respeitar a justiça, mas para ter a paz. É a perseverança da mulher que lhe faz obter o que ela pede. O que conta aos olhos do Senhor é a perseverança no pedido. Deus parece esperar a confiança daqueles que Lhe rezam. A confiança não tem limites… Mas Jesus coloca a terrível questão: “O Filho do Homem, quando vier, encontrará fé sobre a terra?” Não respondamos demasiado depressa… A nossa oração verifica a nossa fé, mas é necessário que ela se faça perseverança…

4. À ESCUTA DA PALAVRA.
“É preciso rezar sempre sem desencorajar”. Jesus tomou o exemplo da viúva que pede obstinadamente que a justiça lhe seja feita, para ilustrar o seu convite a uma oração perseverante, também ela obstinada. Mas poderíamos esperar esta conclusão: “Se vós insistis sem cessar junto de Deus com a vossa oração, então, como o juiz, Ele acabará por ceder e atenderá o vosso pedido”. Mas não! Jesus parece incoerente. Ele diz: “E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa”. É preciso rezar longamente, com perseverança, sem desencorajar e então Deus escuta-nos depressa, sem tardar! Tudo isso não é muito lógico! Mas que quer Jesus dizer-nos? A palavra-chave é que “Deus faz-nos justiça”. É uma palavra terrivelmente ambígua. A justiça entre os homens é indispensável. Consiste em dar a cada um o que lhe é devido, a reconhecer os deveres e os direitos de cada um. Há leis para dizer quais são esses direitos e deveres, há juízes para aplicar essas leis. Mas a justiça humana é sempre muito limitada e é preciso, muitas vezes, uma longa paciência para que ela seja, ao menos um pouco, aplicada! Com Deus, as coisas não são assim. Deus não é um juiz mais perfeito que os juízes terrestres, a justiça de Deus não é um decalque eterno da justiça humana. Jesus veio revelar-nos que Deus é Amor. Desde então, Deus é justo quando a sua acção é “ajustada” ao seu ser, é justo quando ama. O mais alto degrau da justiça é perdoar e fazer misericórdia, porque aí se manifesta em plena luz a verdadeira natureza de Deus, o seu amor totalmente gratuito. É precisamente isso que pedem os “eleitos”, aqueles que compreenderam qual é a justiça de Deus: Ó Deus, dá-me o teu amor, o teu Espírito Santo, para que Ele ajuste o meu coração e toda a minha vida ao teu amor. Perdoa os meus pecados”. Esta oração, Deus atende-a sem tardar, como fez ao bom ladrão: “Hoje, estarás comigo no Paraíso”. Esta oração, posso e devo fazê-la todos os dias, sem me cansar, sem me desencorajar, porque é todos os dias que preciso de ser ajustado ao amor de Deus.

5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística IV, que recorda toda a história da salvação e está em harmonia com a perseverança pedida ao homem; é toda a Aliança…

6. PALAVRA PARA O CAMINHO DA VIDA…
Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: “o Senhor é quem te guarda… o Senhor vela pela tua vida…”; “proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina”; “…necessidade de orar sempre sem desanimar…”. Procurar transformá-las em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…

 

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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