Missa da meia-noite do Natal do Senhor – Ano C


24 de Dezembro, 2018

ANO C
NATAL DO SENHOR – MISSA DA MEIA-NOITE

Tema da “missa da meia-noite” do Natal do Senhor

O tema desta Eucaristia pode resumir-se na expressão “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz”.
A primeira leitura anuncia a chegada de um menino, da descendência de David, dom de Deus para o Povo, que eliminará as causas objectivas de sofrimento, de injustiça e de morte, e inaugurará uma era de alegria, de felicidade e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta a concretização da promessa profética: Jesus, o menino de Belém, é o Deus que vem ao encontro dos homens para lhes oferecer – sobretudo aos mais pobres e débeis – a salvação. Não se trata de uma salvação imposta, mas de uma salvação oferecida com ternura e amor.
A segunda leitura lembra que acolher a salvação de Deus, tornada presente na história dos homens em Jesus, significa renunciar aos valores do mundo, sempre que eles estejam em contradição com a proposta do menino de Belém.

LEITURA I – Is 9,1-6

Leitura do Livro de Isaías

O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;
para aqueles que habitavam nas sombras da morte
uma luz começou a brilhar.
Multiplicastes a sua alegria,
aumentastes o seu contentamento.
Rejubilam na vossa presença,
como os que se alegram no tempo da colheita,
como exultam os que repartem despojos.
Vós quebrastes, como no dia de Madiã,
o jugo que pesava sobre o povo,
o madeiro que ele tinha sobre os ombros
e o bastão do opressor.
Todo o calçado ruidoso da guerra
e toda a veste manchada de sangue
serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas.
Porque um menino nasceu para nós,
um filho nos foi dado.
Tem o poder sobre os ombros
e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte,
Pai eterno, Príncipe da paz».
O seu poder será engrandecido numa paz sem fim,
sobre o trono de David e sobre o seu reino,
para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça,
agora e para sempre.
Assim o fará o Senhor do Universo.

AMBIENTE

O texto que nos é apresentado faz parte dos “oráculos messiânicos” atribuídos ao profeta Isaías. Não é seguro se se trata de um texto de Isaías, ou de um texto posterior à época do profeta, enxertado pelos editores finais da obra na mensagem de Isaías.
Se for de Isaías, pode pertencer à fase final da actividade do profeta (inícios do séc. VII a.C.). Por essa altura, o rei Ezequias, ignorando os avisos de Isaías, continua a jogar no xadrez político internacional e a alinhar em alianças contra os assírios, enviando embaixadas ao Egipto, à Fenícia e à Babilónia, a fim de consolidar uma frente anti-assíria. O profeta, desiludido com essas iniciativas (que considera um abandono de Deus e um colocar a confiança e a esperança, não em Jahwéh, mas nos exércitos estrangeiros), começa a sonhar com um tempo novo, sem imperialismos, sem guerra nem armas, e onde reinam a justiça e o direito.
O “menino” aqui anunciado, da descendência de David, pode também estar em relação com o “sinal do Emanuel” de que o profeta fala ao rei Acaz em Is 7,14-17. Seja como for, é um texto que dá fôlego à corrente messiânica e que alimenta a esperança de Israel num futuro novo de paz e de felicidade para o Povo de Deus.

MENSAGEM

Para descrever esse tempo novo de alegria e de felicidade que, no futuro, Jahwéh prepara para o seu Povo, o profeta utiliza imagens muito sugestivas: será como no tempo da colheita, quando todo o Povo dança feliz pela abundância dos alimentos; será como após uma caçada coroada de êxito, quando os caçadores dividem com alegria a presa.
Porquê esta alegria, celebrada na festa? Porque a guerra, a injustiça, a violência e a opressão foram vencidos e vai ser inaugurada uma nova era, de vida, de abundância, de paz e de felicidade para todos.
Quem é responsável por esta “nova ordem”? Na linguagem de Isaías, é “um menino”, enviado por Deus com a missão de restaurar o trono de David, que reinará no direito e na justiça (“mishpat/zedaqa”: estas palavras evocam, na linguagem profética, uma sociedade onde as decisões dos tribunais fundamentam uma recta ordem social, onde os direitos de todos são respeitados e onde não há lugar para a exploração e a injustiça). O quádruplo nome desse “menino” evoca títulos de Deus ou qualidades divinas: o título “conselheiro maravilhoso” celebra a capacidade de conceber desígnios prodigiosos e é um atributo de Deus – cf. Is 25,1; 28,29; o título “Deus forte” é um nome do próprio Deus – cf. Dt 10,17; Jr 32,18; Sl 24,8; o título “príncipe da paz” leva também a Jahwéh, aquele que é “a Paz” – cf. Is 11,6-9; Mi 5,4; Zac 9,10; Sl 72,3.7. Quanto ao título “Pai eterno”, é um título do rei – cf. 1 Sm 24,12 – e é um título dado ao faraó pelos seus vassalos, nomeadamente nas cartas de Tell el-Amarna. Fica, assim, claro que esse “menino” é um dom de Deus ao seu Povo e que, com ele, Deus residirá no meio do seu Povo, outorgando-lhe a justiça e a felicidade para sempre.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão e actualização da mensagem deste texto podem fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:

¨ É Jesus que dá sentido a esta “profecia messiânica”. Ele é o “menino” anunciado por Isaías, dom de Deus aos homens para inaugurar o mundo do direito e da justiça, da paz e da felicidade para todos. O nascimento de Jesus significa que, efectivamente, este “reino” incarnou no meio dos homens. Jesus chamou a este mundo proposto por Deus, “reino de Deus”. Em que medida este “reino”, semeado por Jesus, foi acolhido pelos homens e se tornou uma realidade viva, a crescer na nossa história?

¨ E nós, cristãos, que acolhemos Jesus como a concretização das promessas de Deus, lutamos pela efectivação deste “reino” de justiça e de paz? Como lidamos com tudo o que é exploração, injustiça, egoísmo, violência e morte? Qual a mensagem que propomos a esse mundo que exalta e cultiva a exploração, o egoísmo e a injustiça?

¨ Reparemos no “jeito de Deus”: Ele não Se serve da força e do poder para intervir na história e realizar a salvação; mas é através de um “menino”, na sua fragilidade e dependência, que Deus propõe aos homens um projecto revolucionário de salvação/libertação. Temos consciência de que é na simplicidade e na humildade que Deus age no mundo? E nós? Seguimos os passos de Deus e respeitamos a sua lógica quando queremos propor algo aos nossos irmãos?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96)

Refrão: Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.

Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira,
cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.

Anunciai dia a dia a sua salvação,
publicai entre as nações a sua glória,
em todos os povos as suas maravilhas.

Alegrem-se os céus, exulte a terra,
ressoe o mar e tudo o que ele contém,
exultem os campos e quanto neles existe,
alegrem-se as árvores das florestas.

Diante do Senhor que vem,
que vem para julgar a terra:
julgará o mundo com justiça
e os povos com fidelidade.

LEITURA II – Tito 2,11-14

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Tito

Caríssimo:
Manifestou-se a graça de Deus,
fonte de salvação para todos os homens.
Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos,
para vivermos, no tempo presente,
com temperança, justiça e piedade,
aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória
do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo,
que Se entregou por nós,
para nos resgatar de toda a iniquidade
e preparar para Si mesmo um povo purificado,
zeloso das boas obras.

AMBIENTE

A “Carta a Tito” dirige-se, presumivelmente, a esse Tito que foi convertido por Paulo (cf. Tt 1,4), que acompanhou o apóstolo ao Concílio de Jerusalém (cf. Ga 2,1-2), que esteve com Paulo em Éfeso e que, por duas vezes, foi enviado por Paulo a Corinto com missões delicadas, numa altura que o ânimo dos coríntios estava exaltado contra Paulo (cf. 2 Cor 7,6-7; 8,16-17). O autor desta carta sugere que Paulo, na parte final da sua vida, teria confiado a Tito a animação da Igreja de Creta (cf. Tt 1,5).
A “Carta a Tito”, no geral, parece ser um texto tardio, quando a preocupação fundamental das comunidades cristãs já não se centrava na vinda iminente do Senhor, mas em definir a conduta dos cristãos no tempo presente. Depois de apresentar uma série de conselhos práticos (para os anciãos, para os jovens, para os escravos – cf. Tt 2,1-10), o autor da carta procura fundamentar a prática cristã nos sólidos fundamentos da fé. É neste contexto que aparece a leitura que nos é proposta.

MENSAGEM

Porque é que os anciãos, os jovens e os escravos (isto é, a totalidade dos membros da comunidade crente) devem pautar a sua vida pelas referências cristãs? Porque “manifestou-se a graça (“kharis”) de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, (…) com temperança, justiça e piedade, aguardando (…) a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2,12-13).
O amor de Deus – tantas vezes e de tantas formas manifestado na história – tem, pois, um projecto de salvação que foi apresentado aos homens na vida, nas palavras, nos gestos e na morte/ressurreição de Jesus Cristo. Esse projecto convida-nos a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo propõe e a ser sensíveis aos valores apresentados por Deus, em Jesus. Acolher esse projecto de amor e viver em consequência é a forma de aguardar, na esperança, a vinda de Jesus.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão e actualização da segunda leitura de hoje podem fazer-se a partir dos seguintes pontos:

¨ Temos consciência do amor de Deus e que a incarnação de Jesus é o sinal mais expressivo desse amor por nós?

¨ Aprendemos, com Jesus, a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo nos propõe e a confrontar, dia a dia, a nossa vida com os valores do Evangelho?

¨ É assumindo e percorrendo caminhos de simplicidade, de justiça e de comunhão com Deus que aguardamos a “vinda” de Jesus?

ALELUIA – Lc 2,10-11

Aleluia. Aleluia.

Anuncio-vos uma grande alegria:
Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.

EVANGELHO – Lc 2,1-14

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naqueles dias,
saiu um decreto de César Augusto,
para ser recenseada toda a terra.
Este primeiro recenseamento efectuou-se
quando Quirino era governador da Síria.
Todos se foram recensear, cada um à sua cidade.
José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré,
à Judeia, à cidade de David, chamada Belém,
por ser da casa e da descendência de David,
a fim de se recensear com Maria, sua esposa,
que estava para ser mãe.
Enquanto ali se encontravam,
chegou o dia de ela dar à luz,
e teve o seu Filho primogénito.
Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura,
porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos
e guardavam de noite os rebanhos.
O Anjo do Senhor aproximou-se deles
e a glória do Senhor cercou-os de luz;
e eles tiveram grande medo.
Disse-lhes o Anjo: «Não temais,
porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo:
nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador,
que é Cristo Senhor.
Isto vos servirá de sinal:
encontrareis um Menino recém-nascido,
envolto em panos e deitado numa manjedoura».
Imediatamente juntou-se ao Anjo
uma multidão do exército celeste,
que louvava a Deus, dizendo:
«Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens por Ele amados».

AMBIENTE

É duvidoso que Quirino, como governador, tenha ordenado um recenseamento na época em que Jesus nasceu (só por volta do ano 6 d.C. é que ele se tornou governador da Síria, embora possa ter sido “legado” romano na Síria entre 12 e 8 a.C. Pode, realmente, nessa altura, ter ordenado um recenseamento que teve efeitos práticos na Palestina por volta dos anos 6/7 a.C., altura do nascimento de Jesus). De qualquer forma, Lucas não está a escrever “história”, mas a fazer teologia e a apresentar uma catequese sobre Jesus, o Filho de Deus prometido, que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.
Com estas indicações de carácter histórico, Lucas está interessado em situar o nascimento de Jesus numa época e num espaço concreto, sugerindo que não se trata de um acontecimento lendário, mas de algo perfeitamente integrado na história e na vida dos homens.

MENSAGEM

A primeira indicação vem da referência a Belém como o lugar efectivo do nascimento de Jesus… Lucas sugere, assim, que este Jesus é o Messias, da descendência de David, anunciado pelos profetas (cf. Miq 5,1). Fica, desde já, claro que o nascimento de Jesus se integra no plano de salvação que Deus tem para os homens – plano que os profetas anunciaram e cuja realização o Povo de Deus aguardava ansiosamente.
São também importantes os elementos que definem a simplicidade do quadro do nascimento – a manjed
oira, a falta de lugar na hospedaria, os panos que envolvem a criança, as testemunhas do acontecimento (os pastores): é na pobreza, na simplicidade, na fragilidade que Deus vem ao encontro dos homens para lhes propor um projecto de salvação e de felicidade. Não é um projecto imposto do alto de um trono, pela força de um ceptro ou pelo poder das armas, do dinheiro ou da comunicação social; mas é uma proposta que chega ao coração dos homens através da simplicidade, da fraqueza e da ternura de um “menino”. É assim que Deus entra na nossa história; é assim a lógica de Deus.
Finalmente, detenhamo-nos nas “testemunhas” do nascimento: os pastores. Trata-se de gente considerada violenta e marginal, que invadia com os rebanhos as propriedades alheias e que tinha fama de se apropriar da lã, do leite e das crias dos rebanhos. Os pastores eram, com frequência, colocados ao lado dos publicanos e dos cobradores de impostos, todos incapazes de reconhecer a quem tinham prejudicado e, portanto, incapazes de oferecer uma reparação. Lucas coloca, precisamente, estes marginais como as “testemunhas” que acolhem a chegada de Jesus ao mundo. É para estes pecadores e marginalizados que a chegada de Jesus é uma “boa notícia”, recebida com alegria: chegou a salvação/libertação; a partir de agora os pobres, os débeis, os marginalizados e os pecadores são convidados a integrar essa comunidade dos filhos amados de Deus. Sugere-se que Deus não os rejeita nem marginaliza, mas quer apresentar-lhes uma proposta de salvação que os leve a integrar a comunidade da Nova Aliança, a comunidade do Reino.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão deste texto pode seguir as seguintes indicações:

¨ O menino de Belém leva-nos a contemplar o incrível amor de um Deus que Se preocupa com a vida e a felicidade dos homens e que envia o próprio Filho ao encontro dos homens para lhes apresentar um projecto da salvação/libertação. Nesse menino de Belém, Deus grita-nos a radicalidade do seu amor por nós.

¨ O presépio apresenta-nos a lógica de Deus que não é, tantas vezes, igual à lógica dos homens: a salvação de Deus não se manifesta na força das armas, na autoridade prepotente, nos gabinetes ministeriais, nos conselhos das empresas, nos salões onde se concentram as estrelas do “jet-set”, mas numa gruta de pastores onde brilha a fragilidade, a ternura, a simplicidade, a dependência de um bebé recém-nascido. Qual é a lógica com que abordamos o mundo – a lógica de Deus ou a lógica dos homens?

¨ A presença libertadora de Jesus neste mundo é uma “boa notícia” que devia encher de felicidade os pobres, os débeis, os marginalizados, e dizer-lhes que Deus veio ao seu encontro para lhes propor a salvação/libertação. É essa a proposta que nós, os seguidores de Jesus, passamos ao mundo? Nós, Igreja, não estaremos demasiado ocupados a discutir questões laterais (poderiam abundar exemplos…), esquecendo o essencial (o anúncio libertador aos pobres)?

¨ Jesus – o Jesus da justiça, do amor, da fraternidade e da paz – já nasceu de forma efectiva na vida de cada um de nós, nas nossas famílias, nas nossas comunidades cristãs, nas nossas casas religiosas?

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
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